26.1.08

DENÚNCIA


Antero de Quental
Do Suicídio a 11 de Setembro de 1891,
à incúria da Câmara Municipal de Lisboa.
Jardim da Estrela, 13 de Janeiro de 2008.

REDENÇÃO


I

Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, num sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

Verbo crepuscular e íntimo alento
Das coisas mudas; salmo misterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do Mundo e o seu lamento?

Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.

E eu compreendo a vossa língua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!


II

Não choreis, ventos, árvores e mares,
Coro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...

Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
Desse sonho e essas ânsias afrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...

Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,

Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.
Antero de Quental

Jorge Aguiar Oliveira

3 Comments:

At 4:23 da tarde, Blogger ruialme said...

Os dois sonetos são de Antero e estão como tal identificados. Mas Eduardo Pitta refere-se a eles como "Um poema de Jorge Aguiar Oliveira". Aqui: http://daliteratura.blogspot.com/2008/01/ler-os-outros_27.html

 
At 5:05 da tarde, Blogger hmbf said...

Olá Rui. Deve ter sido por lapso. Já foi alterado.

 
At 5:09 da tarde, Blogger ruialme said...

É óbvio q foi lapso.

 

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