24.1.08

DEIXEM-ME TER UMA MORTE DE JOVEM

Deixem-me ter uma morte de jovem
não uma morte limpa & entre
os lençóis com água benta
não uma morte com últimas-palavras-famosas
ofegante e suave

Quando tiver 73
& de constante bom humor
que eu seja ceifado ao amanhecer
por um belo carro desportivo vermelho
a caminho de casa
de um bródio que durou toda a noite

Ou quando tiver 91
com cabelo de prata
& sentado no barbeiro
que gângsters rivais
entrem com metralhadoras
& me cravejem costas & barriga

Ou quando tiver 104
& proibido de entrar no bar
que a minha amante
me apanhe na cama com a filha
& receando pelo filho
me corte aos bocadinhos
& deite fora todos menos um

Deixem-me ter uma morte de jovem
não uma morte sem pecado, em bicos de pés
velas & declínio
não uma morte de cortinas corridas por anjos
não uma morte ‘que bela maneira de partir’


Tradução de Manuel de Seabra.

Photobucket

Roger McGough nasceu em Liverpool a 9 de Novembro de 1937. Estudou na Universidade do Hull, na mesma altura em que Philip Larkin era aí presidente da biblioteca. Reconhecido poeta e performer, foi membro do grupo de música humorística The Scaffold – autores de uma famosíssima versão de Lily The Pink - e apresentou, na BBC Rádio 4, o programa Poetry Please. Tornou-se popular depois de ter escrito alguns diálogos para o filme O Submarino Amarelo, dos Beatles. Como poeta, estreou-se no volume The Mersey Sound (1967). No mesmo ano publicou a sequência-poema Summer With Monika. Entretanto foram-lhe atribuídos vários prémios e condecorações.