Três Poemas* de Filinto Elísio
PRAIA, SETEMBRO 2006.
Filinto Elísio, nasceu em 1957 na Cidade da Praia. Ilha de Santiago, Cabo Verde.
I
estranho filósofo
que fazes filosofia
à porta do destino dos outros
diz-me quantas luas
faltam para que cheguemos
aonde estes passos nos levam
diz-me
já que espreitas
da fechadura mágica da tua alma
a diferença entre o sol e o solfejo
diz-me coisas absolutamente absurdas
para que eu sinta a fundo
o poço das minhas inquietações
dar-te-ei todos os dados da noite
a senha de todas as trevas
a chave da porta do destino dos outros
II
a secretária sonega o pouco carinho do burocrata
o palhaço suicida-se sob o autocarro vermelho
duas crianças disputam os despojos do lixo
o velho anima-se no seu último momento
algumas estrelas polvilham os olhares
a Igreja matriz deposita os fiéis na rua
mil e tantos convictos em Congresso
um comunicado e um panfleto
perdoem-me se o poema é apenas
um corte na carne dorida da cidade...
onde fui arranjar esta angústia de ser sozinho?
o que me leva a rodar tabernas nocturnas
tragando os terríveis dramas de cada um?
por que versejo extrapolações
coisas como ilusões tragédias surdas?
e o que é deste querer que amanheça amanhã
o travo amargo de uma claridade?
seja
a cidade é uma realidade sui generis
ruas de um só sentido becos sem saída
áreas restritas excessos de violeta
mercados negros ladrões de casaca
homens de escuta altamente qualificados
prostitutas vamps ditadores vips
III
parece um oásis
só de areia
pegadas tuas
procurei-as em vão
na orla das praias
sonhos meus
ficaram no vértice
dos montes do Sal
* Selecção de Jorge Aguiar Oliveira
I
estranho filósofo
que fazes filosofia
à porta do destino dos outros
diz-me quantas luas
faltam para que cheguemos
aonde estes passos nos levam
diz-me
já que espreitas
da fechadura mágica da tua alma
a diferença entre o sol e o solfejo
diz-me coisas absolutamente absurdas
para que eu sinta a fundo
o poço das minhas inquietações
dar-te-ei todos os dados da noite
a senha de todas as trevas
a chave da porta do destino dos outros
II
a secretária sonega o pouco carinho do burocrata
o palhaço suicida-se sob o autocarro vermelho
duas crianças disputam os despojos do lixo
o velho anima-se no seu último momento
algumas estrelas polvilham os olhares
a Igreja matriz deposita os fiéis na rua
mil e tantos convictos em Congresso
um comunicado e um panfleto
perdoem-me se o poema é apenas
um corte na carne dorida da cidade...
onde fui arranjar esta angústia de ser sozinho?
o que me leva a rodar tabernas nocturnas
tragando os terríveis dramas de cada um?
por que versejo extrapolações
coisas como ilusões tragédias surdas?
e o que é deste querer que amanheça amanhã
o travo amargo de uma claridade?
seja
a cidade é uma realidade sui generis
ruas de um só sentido becos sem saída
áreas restritas excessos de violeta
mercados negros ladrões de casaca
homens de escuta altamente qualificados
prostitutas vamps ditadores vips
III
parece um oásis
só de areia
pegadas tuas
procurei-as em vão
na orla das praias
sonhos meus
ficaram no vértice
dos montes do Sal
* Selecção de Jorge Aguiar Oliveira
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