Labirinto #18
“A geometria de Tlön compreende duas disciplinas um tanto diferentes: a visual e a táctil. A última corresponde à nossa e eles subordinam-na à primeira. A base da geometria visual é a superfície e não o ponto. Esta geometria desconhece as paralelas e declara que o homem que se desloca modifica as formas que o circundam. A base da sua aritmética é a noção de números indefinidos. Acentuam a importância dos conceitos de maior e menor, que os nossos matemáticos simbolizam por > e por <. Afirmam que a operação de contar modifica as quantidades e as transforma de indefinidas em definidas. O facto de vários indivíduos que contam uma quantidade conseguirem um resultado igual, para os psicólogos é um exemplo de associação de ideias ou de bom exercício de memória. Já sabemos que em Tlön o sujeito do conhecimento é uno e eterno. Nos hábitos literários também é omnipotente a ideia de um sujeito único. É raro que os livros sejam assinados. Não existe o conceito de plágio: estabeleceu-se que todas as obras são obras de um só autor, que é intemporal e é anónimo. A crítica costuma inventar autores: escolhe duas obras dissemelhantes – o Tao Te King e as 1001 Noites, digamos, - atribui-as a um mesmo escritor e a seguir determina com probidade a psicologia desse interessante homme de lettres…”
Jorge Luís Borges, “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, in “Ficções”, Ed. Teorema, pág. 23.
Maria João
Jorge Luís Borges, “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, in “Ficções”, Ed. Teorema, pág. 23.
Maria João
2 Comments:
"Borgues"?? Do verbo borgar?
Borges mais do que borga é um flash!
;)
Maria João
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