28.4.08

PENSAR POSITIVO

Foi desmantelada mais uma rede de trabalho escravo. Basicamente, funcionava assim: «a organização dividia os trabalhadores em grupos de dez e de 20 pessoas que eram transportadas por todo o país. Os explorados recebiam comida e, por vezes, em lugar do salário, droga e serviços de prostituição. Quando os ordenados eram pagos pelos empresários, os responsáveis pela organização, alegando enganos, apoderavam-se das cadernetas e códigos secretos das contas para, posteriormente, retirarem parte do dinheiro». Estas histórias impressionam-me sempre muito. São uma prova de que evoluímos muito pouco. Mas, apesar de tudo, são também a prova de que evoluímos alguma coisa. Não porque tenha havido um tempo em que nem com droga e putas os escravos eram pagos, mas pelo próprio carácter ilegal da rede. Que tenha sido desmantelada é, só por si, um pequeno sinal de que evoluímos alguma coisa.

Um tipo foi a uma esquadra da polícia de Moscavide apresentar uma queixa. Enquanto prestava depoimento, os indivíduos que eram alvo das acusações resolveram entrar na esquadra e enxertar o queixoso com uma carga de porrada. Ao que parece, este foi direitinho da esquadra para o hospital. Aí, as queixas terão sido outras. Ouvi na televisão alguns locais declarando o medo que sentem hoje nas ruas de Moscavide. Porquê? «Há para aí muita estrangeirada». - afirmou uma senhora com um ar algo medonho. Este tipo de declarações impressiona-me sempre muito. São uma prova de que evoluímos muito pouco. Mas, apesar de tudo, são também a prova de que evoluímos alguma coisa. Não porque tenha havido um tempo em que não existia estrangeirada na rua, mas pelo simples facto de haver tanta estrangeirada na rua. Que ela exista é, por si só, um pequeno sinal de que estamos melhor do que estávamos. Se não estivéssemos, a estrangeirada não viria para cá. Também não morreu ninguém nesta invasão da esquadra de Moscavide, o que é muito positivo.

É daquelas notícias que dá gosto viver em Portugal: «a junta de freguesia da Ericeira foi multada em sete mil euros por utilizar óleos reciclados para mover os carros do lixo, em vez de comprar combustíveis fósseis, pelo que o Estado se considera lesado». Como a produção do biodisel não está legalizada, o Estado não lhe mete a unha com imposto. Em suma: a junta quis ser pioneira numa forma original de proteger o meio ambiente, mas terá sido abusiva numa forma original de fugir às mandíbulas beberronas da Direcção-Geral de Finanças. Este tipo de desfecho impressiona-me sempre muito. É a prova de que evoluímos muito pouco. Mas, apesar de tudo, é também a prova de que evoluímos alguma coisa. Não porque tenha havido um tempo em que o Estado se deixava lesar, mas pelo simples facto de haver quem torne claro que a consciência ambiental é lesiva para o Estado. Que haja tanta clareza na declaração deste princípio é, por si só, um pequeno sinal de que estamos muito melhor do que estávamos. Se não estamos, estaremos.

1 Comments:

At 6:00 da tarde, Blogger Unknown said...

muito bom :)

 

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