ESCLARECIMENTO
Na sequência de um e-mail recebido há minutos, cabe esclarecer que o excerto de uma carta de uma editora aqui revelado anteriormente não se refere ao livro A Resistência dos Materiais do nosso colaborador Rui Costa. Esse foi revelado pelo próprio, em matiz policromático, a 15 de Abril passado. Na minha modesta opinião, nada há de triste na divulgação daquele excerto. A decisão foi ponderada e, por alguma razão, não mencionei os nomes dos visados. Também não faz muito sentido acusarem-me de descontextualizar o excerto, pois trata-se da citação, sem tirar nem pôr, de praticamente todo um parágrafo. A fundamentação subsequente em nada contradiz o essencial: aquela editora não quis publicar um livro porque ele tinha excesso de qualidade. De alguma forma ficou claro nas minhas palavras, penso eu, que as editoras são livres de publicarem o que bem entenderem e de usarem os critérios que julgarem mais de acordo com as suas concepções estéticas, políticas, idiossincráticas, mercantilistas, etc… Em nenhuma circunstância me passou pela cabeça que uma editora devesse ter a obrigação de publicar um livro porque o considera de excessiva qualidade. Apenas julgo haver algo de medonho e de triste em não se publicar um livro por ele apresentar uma “qualidade excessiva”. Esta realidade é relevante, pois põe a claro uma série de problemas típicos da sociedade que temos e do país em que vivemos (sintetizados, de resto, em afirmações recentes do editor Nelson de Matos). Esses problemas são os seguinte:
1) a ausência de risco e a cobardia de que fala o João Urbano na caixa de comentários (algo que não acontece com alguns projectos editoriais que, mal ou bem, vão arriscando o que podem, como podem e como sabem);
2) a cedência aos podres do mercado (é figura pública, publica-se, é mediático, publica-se, é sensacionalista, publica-se, é fácil, publica-se, é óbvio, publica-se, é bom, não se publica porque o mercado é mau);
3) uma estereotipização do público que é deveras perigosa (pois parte de um preconceito que acaba sendo promovido, como se a estupidez fosse uma fatalidade, como se a pouca cultura e parca sofisticação dos leitores portugueses fossem um dado adquirido e uma inevitabilidade).
Acredito que há várias formas de se estar no mundo. Pactuar com o que está mal, cruzar os braços ao que está mal, não é a minha. Neste caso específico, choca-me a falta de nível, esta tristeza de, do ensino aos media, do comércio à política, se optar pelo lado mais fácil, não haver exigência, darmo-nos por derrotados perante as mais elementares dificuldades. Faz-me pensar que hoje em dia a cultura é um mal, que o saber é uma inutilidade, que a inteligência é um defeito. Há algo de muito promíscuo nisto tudo. Como é que se pode, à partida, determinar o sucesso ou o insucesso comercial de um livro? Será que as editoras com graus de exigência mais elevados andam no mercado para perderem dinheiro? Não será possível e até desejável conjugar as vertentes comercial e crítica? O que seria dos grandes escritores hoje em dia? Não seriam publicados por serem excessivamente bons? E enquanto tal, continuamos a investir em porcarias sem jeito nenhum. Sendo assim, não admira mesmo nada que uma senhora chamada Carolina Salgado se declare escritora em pleno tribunal. Para que país caminhamos se os agentes de cultura tomam o seu público por estúpido, se continuamos a lançar para a sarjeta o que é bom e não nos importamos de promover, vender, divulgar o que é medíocre? Num país tão pouco exigente consigo próprio, que se dá ao luxo de prescindir do que tem de bom em função de lucros imediatos, não podemos esperar que alguma coisa mude. Na minha ingenuidade, creio que uma editora também deveria apresentar alguma preocupação em ser, tanto quanto possível, um agente de mudança. Mas parece que não, parece que já ninguém quer saber do futuro para nada. E o pior é que, não querendo saber do futuro, são cada vez mais os que pouco se importam com o presente.
1) a ausência de risco e a cobardia de que fala o João Urbano na caixa de comentários (algo que não acontece com alguns projectos editoriais que, mal ou bem, vão arriscando o que podem, como podem e como sabem);
2) a cedência aos podres do mercado (é figura pública, publica-se, é mediático, publica-se, é sensacionalista, publica-se, é fácil, publica-se, é óbvio, publica-se, é bom, não se publica porque o mercado é mau);
3) uma estereotipização do público que é deveras perigosa (pois parte de um preconceito que acaba sendo promovido, como se a estupidez fosse uma fatalidade, como se a pouca cultura e parca sofisticação dos leitores portugueses fossem um dado adquirido e uma inevitabilidade).
Acredito que há várias formas de se estar no mundo. Pactuar com o que está mal, cruzar os braços ao que está mal, não é a minha. Neste caso específico, choca-me a falta de nível, esta tristeza de, do ensino aos media, do comércio à política, se optar pelo lado mais fácil, não haver exigência, darmo-nos por derrotados perante as mais elementares dificuldades. Faz-me pensar que hoje em dia a cultura é um mal, que o saber é uma inutilidade, que a inteligência é um defeito. Há algo de muito promíscuo nisto tudo. Como é que se pode, à partida, determinar o sucesso ou o insucesso comercial de um livro? Será que as editoras com graus de exigência mais elevados andam no mercado para perderem dinheiro? Não será possível e até desejável conjugar as vertentes comercial e crítica? O que seria dos grandes escritores hoje em dia? Não seriam publicados por serem excessivamente bons? E enquanto tal, continuamos a investir em porcarias sem jeito nenhum. Sendo assim, não admira mesmo nada que uma senhora chamada Carolina Salgado se declare escritora em pleno tribunal. Para que país caminhamos se os agentes de cultura tomam o seu público por estúpido, se continuamos a lançar para a sarjeta o que é bom e não nos importamos de promover, vender, divulgar o que é medíocre? Num país tão pouco exigente consigo próprio, que se dá ao luxo de prescindir do que tem de bom em função de lucros imediatos, não podemos esperar que alguma coisa mude. Na minha ingenuidade, creio que uma editora também deveria apresentar alguma preocupação em ser, tanto quanto possível, um agente de mudança. Mas parece que não, parece que já ninguém quer saber do futuro para nada. E o pior é que, não querendo saber do futuro, são cada vez mais os que pouco se importam com o presente.
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