PINTURA & FOTOGRAFIA
O interesse de Don’t Come Knocking (2005) divide-se entre ser um filme de Wim Wenders e ser um filme de Wim Wenders escrito por Sam Shepard. Shepard, que já havia escrito o histórico Paris, Texas (1984) para Wenders, interpreta também o papel central de um actor de westerns em decadência. Com uma carreira recheada de escândalos, Howard Spence é um homem em fuga. Literal e psicologicamente. Acaba a encontrar-se com um amor antigo, um filho que desconhecia, o súbito desejo de ter uma família. Talvez demasiado tarde, com muitos equívocos por desfazer, talvez já sem lugar para a normalidade numa vida que fora sempre anormal. Num filme que parece um quadro de Edward Hopper em movimento, Sam Shepard, autor de umas estimulantes Crónicas Americanas, é uma personagem ambivalente que cativa, quase como todas as personagens ambivalentes, pela solidão implacável da sua indomável reincidência.
De Andrzej Zulawski (Polónia, 1940), este La Fidélité (2000). Sophie Marceau é sempre motivo mais que suficiente para ver um filme. Mas neste caso, não é o único motivo. Uma outra razão é a inteligência com que Zulawski filma, não a impossibilidade do amor, mas a fidelidade enquanto entrave à consumação física desse amor. Há uma ideia curiosa que ressalta da história do filme, a ideia de que o amor é uma espécie de anomalia metafísica, está para lá dos desejos da carne ainda que se manifeste, a toda a hora, sob a forma de uma angústia bastante física. É curioso que, nas suas divergências de género e estilo, o par verdadeiramente amoroso de La Fidélité – Clélia (Sophie Marceau) e Némo (Guillaume Canet) - acaba materializando a relação num diálogo intenso mantido através da prática de uma arte comum: a fotografia. Outras questões há que fazem de La Fidélité um filme essencial nos tempos que correm. Questões, inclusive, de ordem política. A mim, o que mais cativou foi esta surpreendente experiência do amor.
2 Comments:
não se escreve actor pá
é atôr
atour
a torre
é isso aí
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