8.5.08

REACÇÕES

«As corajosas e certeiras declarações de Bob Geldof» mereceram a desconfiança de alguns escribas muito cá de casa. O Filipe Guerra diz que «os saudosos do colonialismo, mais ou menos encapotados, gostaram dele e da frase». E refere-se a Geldof nestes termos: «a especialidade dele é ajudar os pretinhos com os lives aids. Em Fevereiro deste ano, passeou de avião com Bush a caminho de África para ajudar este a ajudar os pretinhos, mas teve a honradez de dizer que o fazia por marketing - do seu livro e dos seus discos». Já Rui Bebiano, que acha Geldof «um tipo bastante irritante e que vale menos do que julga», sempre lhe vai reconhecendo o mérito de, entre a vida protegida e sumptuária que leva, ter conseguido «dinheiro, alguma influência, eventualmente um certo êxito numa tarefa que não terá deixado de ser importante para as pessoas carenciadas que dela podem ter beneficiado». Coisa pouca, eventualmente. E, independentemente do conservadorismo ou do progressismo do individuo em causa –refiro-me ao activista – o que importa o que ele conseguiu ou deixou de conseguir com quem beneficiou ou deixou de beneficiar das suas actividades? Não tem importância alguma. O que importa é que o tipo é arrogante, cheira mal dos pés, tem mau hálito, cospe para o chão, não canta um peido. E proferir verdades onde elas devem ser proferidas, perante este cenário, é prova de que o melhor seria mesmo ter ficado calado, a enfartar-se de canapés e de champanhe. Melhor seria ter recebido aplausos, exibir as medalhas na lapela, fazer um playback institucional e, numa pirueta, regressar ao conforto do lar com a tranquilidade sumptuosa e protegida de sempre. Só não sei se Rui Bebiano fala a sério ou a brincar quando afirma isto: «está por provar que, tal como Geldof disse agora em Lisboa num jantar para banqueiros, diplomatas, políticos, académicos e jornalistas, Angola seja essencialmente um país gerido por criminosos». Pois está, assim como está por provar que seja o 34.º país mais corrupto do mundo, entre 180. Já agora, ler esta notícia do dia.

2 Comments:

At 2:52 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O Senhor dos Santos é um senhor que dá recepções maravilhosas que dão um trabalhão e além disso tem aviões particulares que dão um despesão e além disso tem que gerir o negócio de diamantes que, ao contrário do que se pensa, deve ser coisa de muita responsabilidade e além disso tem que se preocupar com os poços de petróleo e evitar que os salpicos lhe sujem o fato ou, quiçá, a gravata, o que é uma maçada. Por isso o Senhor dos Santos não pode agora andar a perder tempo com miudezas a tentar saber se há criminosos a gerir Angola nem pode andar a ter insónias lá porque há uma data de crianças a morrer à fome todos os dias em Angola.
Isto é uma opinião, pode haver outras.

 
At 6:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ah, com que então o tal Filipe Guerra acha que quem concorda com as acusações de Geldof é saudosista do colonialismo? Pois então o que pensará ele destas palavras: Não houve independência [de Angola]. Há é uma maior dependência daquele país, porque a independência é qualquer coisa que vem ao encontro da felicidade dos povos, e não o que possa contribuir para a sua infelicidade prolongada. E o pior é que não se vê uma meta que ponha fim a este sofrimento todo, às situações escandalosas de corrupção que toda a gente conhece! É um poder de tal maneira ávido das suas percentagens e negócios que esqueceu o povo! (...) A Angola colonial era mais feliz do que esta! Não posso dizer outra coisa, fui lá ver, com os meus próprios olhos, constatei. Na Angola colonial não vi meninos abandonados porque as mães africanas não abandonam os seus filhos. E agora, o que é que se passa? A guerra acabou! A pacificação em princípio está feita, porque os grupos guerreiros chegaram a acordo, estão quietos; mas sentados na mesma mesa, no mesmo banquete.
Palavras de um colonialista sausoso, dirá Guerra. Pois engana-se. A frase é de Fausto Bordalo Dias (esse mesmo, o Fausto que tantas e tão boas músicas tem dado à música portuguesa), sobre cujo empenhamento na luta anticolonial julgo que ninguém terá dúvidas, e foi dita numa entrevista publicada na secção "actual" do site ViriatoTeles.net. O problema de algumas pessoas é não conseguirem pensar sem preconceitos. Felizmente, o Fausto não é desses!

 

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