O JOVEM ESCRITOR
Desabafa naturalmente com o papel os sentidos nocturnos da noite, a lua e os sentimentos de quem sonha, enquanto imagina homens bem parecidos, espaços solitários, mulheres inatingíveis. A lua é um bom lugar para se estar e é lá que o jovem escritor arma a tenda. Escreve como quem desembucha, consolando-se com a boa reacção dos amigos – para outra coisa não servem eles – nas críticas aliviadas para as caixas de comentários do blog: excelente, magnífico, concordo em absoluto, extraordinário, volta sempre. O editor atento lança o isco: edição em capa rija, distribuição pelas melhores livrarias do país, incluindo a FNAC, promoção séria a troco de uns euros facilmente adquiríveis junto de pais orgulhosos. O jovem escritor imagina-se numa estante da FNAC, morde o isco, fala com os pais, vai trabalhar nas férias, se for preciso, tudo em prol desse lugar de sonho numa lua sobre a qual desde muito cedo se aprendeu a… desembuchar. Que o jovem escritor não escreve, desembucha. Ele não é escritor, é desembuchador. Quem o edita sabe disso, por isso lança o isco com a arte de quem pesca tanto à deriva como à bóia, de lançamento ou ao corrico.
Nota: a imagem é de um desembuchador, adquirível pela módica quantia de 1.90€ na lojatudopesca.
Nota: a imagem é de um desembuchador, adquirível pela módica quantia de 1.90€ na lojatudopesca.
3 Comments:
muito apropriado o nome da editora, ou lá que raio é.
ultimamente só tenho tido tempo para embuchar, é que construir um estúdio/escola de música não é fácil, duplas paredes, muitas buchas, parafusos, lã de rocha, martelos, dedos negros e etc, mas sempre é melhor embuchar que desembuchar.
imagino que todos começaram por desembuchar. depois, eventualmente, alguns enxergaram-se, esfregaram os olhos e encolheram os ombros. adiante.
hoje seria perigoso desembuchar, porque em vez de caneta apetece usar a espada.
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