PAVESE
Cesare Pavese nasceu a 9 de Setembro de 1908 e suicidou-se no dia 27 de Agosto de 1950. Já conhecia alguma da sua poesia quando cheguei a “O Ofício de Viver”, o diário póstumo que está editado na Relógio D’Água com tradução de Alfredo Amorim. Tive uma edição anterior, que o Ricardo fez o favor de me fotocopiar de um exemplar existente na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira. Revi-me em muitas das frases desse diário, em muitos dos aspectos da personalidade de Pavese aí revelados. Este efeito reflexivo inquietou-me sempre mais do que me consolou. As suas considerações sobre o género feminino são execráveis, apesar de o próprio confessar que cultivava a misoginia por uma questão de pose. Já os textos sobre poesia e as elucubrações existenciais são muito aceitáveis. Sobre poesia, nunca hei-de esquecer esta entrada de 28 de Outubro de 1935: “A poesia começa quando um idiota diz, a respeito do mar: «Parece azeite.»” Outra muito boa é esta, datada de 17 de Novembro de 1937: “Os grandes poetas são raros como os grandes amantes. Não bastam as veleidades, as fúrias e os sonhos; é preciso melhor: ter colhões.” Das elucubrações existenciais, guardo esta: “Se foder não fosse a coisa mais importante da vida, o Génese não começaria por aí.” (25 de Dezembro de 1937) E esta, de 5 de Janeiro de 1938: “Triste gente, os testículos de que nascemos são ainda e sempre a nossa substância. Imensamente mais feliz é o idiota, o pobre, o malvado cujo membro funciona, do que o génio, o rico, o evangélico que é anormal nas partes baixas.” Mas o mais eloquente dos pensamentos, aquele que sintetiza a vida na sua dimensão mais inquestionável, espontânea, honesta e autêntica, é este, de 20 de Fevereiro de 1938: “Quem come batatas, peida-se.” Pavese repousa agora da sua exaustiva inquietude. Em sua memória, não me esquecerei de comer batatas ao almoço.
3 Comments:
Eu comi uma sopa de feijão, chouriço, batatas e outros legumes e nem sabia que era o aniversário do Pavese! :)
Maria João
Tinha aqui deixado um comentário. Vejo agora que deve ter ido parar às Malvinas.
Ah, e dizia nele que Pavese, em minha opinião, atingiu o seu ponto alto de criatividade na prosa de ficção, que há poucas reedições das novelas e romances dele, que o que intessa hoje (foi mais ou menos assim) é o brilho pechisbeque da nossa Betesga literária, com as honrosas excepções do costume, como dizia Sena. Por este andar a literatura há-de iniciar-se no séc. XXI, isto são acrescentos meus.
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