INUMERÀVEIS MADRUGADAS
Inumeráveis madrugadas,
sempre procurando o betão
emocional dos sonhos. A casa.
A porta mais fecunda
que o cimento: entra
e esvai a voluntária solidão.
Excessivas companheiras
na trepidação libérrima do desejo.
Descem profundamente as escadas,
umas a eternizarem-se, outras
passam cerca dos lábios,
mal pronunciando um beijo.
Com todas me tapo (e conheço
a casa): do acidente ou da paixão.
Exausto, vário, remoto. Pela porta
deflagram na memória. Um lago
do sublime Amor que não se alcança.
A casa. Ávida, mas temerosa
de alvorecer encantada.
Jorge Vaz de Carvalho é Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas e Mestre em Literaturas Comparadas. Cantor lírico, poeta e tradutor, publicou, pela Relógio D’Água, o livro A Lenta Rendição da Luz.
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