APRENDER A CONTAR #49
A COR DE CADA UM
Na república do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos políticos por meio de cores.
Uns optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o amarelo, mas vermelho não podia ser. Também era permitido escolher o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco.
― Este é o melhor ― proclamaram uns tantos. ― Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.
Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adoptariam uma cor se recebessem antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca.
― Justamente o ideal. É a cor que desbota ― sentenciou aquele ali. ― Quando o Governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.
Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Contos Palusíveis, José Olympio Editora, p. 17, 1985.
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