Fragmento #71 – Pancada
Terminei o ano de 2008 com uma forte pancada na cabeça, literalmente, o tampo de uma assassina, anciã escrivaninha de cerejeira, que coabita comigo há cerca de 20 anos, caiu-me na cabeça e como tinha a chave no sítio certo, fui parar ao hospital de Sta Maria, levei uns pontinhos, ou nas palavras de quem me atendeu por lá nas urgências, fui suturada. Isto aconteceu nos preparativos para o jantar, os convidados a chegarem e eu com uma toalha ensanguentada, a minha irmã Xum que tem uma paciência desgraçada para me aturar, levou-me para as urgências. Sta Maria é um local extraordinário, porque apesar de ser um mundo de gente num edifício impessoal, desumano até, aquilo funciona, sempre que lá vou parar, visto que é o Hospital da minha área de residência, pergunto-me sempre como é que aquilo ainda funciona. Assim foi, atendeu-me um atraente jovem cirurgião que tratou do assunto num instante, comentando comigo que na semana passada também tinha batido com a cabeça num ar condicionado e que um colega o suturou – gostei do termo, é coisa que resolve as pancadas. Cheguei pouco antes da meia-noite a casa, comecei 2009 rodeada de amigos e ainda fui bailar até às tantas da madrugada no Ateneu Comercial de Lisboa. Só no dia seguinte é que contei aos meus pais o acidente, mas eles tinham passado por um bem pior: na rua onde moram em Évora, uma louca meteu na cabeça que a casa deles e do vizinho eram residências universitárias e queria entrar para ver os amigos. Durante o dia, um dos meus irmãos ainda a tentou acalmar, explicou-lhe que não viviam ali universitários. Na noite de 31, ela partiu os vidros das janelas do rés-do-chão da rua, e pegou fogo à garagem do vizinho. O meu irmão é a única testemunha, mas o pai da rapariga já se deu como responsável pelos estragos. Estou contente com o fim de 2008 e sinto que o novo ano só pode ser melhor, porque terminar o ano com uma chave a bater-me na cabeça tem que se lhe diga – e com a casa dos meus pais a ser atacada.
Maria João
Maria João
3 Comments:
Querida Joãozinha!
Não podia ser mais simbólico...
Bom Ano de 2009.
Também quero acreditar que só pode ser melhor!
Isso deve doer... já passou? Eu também ando por aqui a lamber algumas feridas...
Olá amigos,
Na altura doeu um pouquinho, agora já não.
beijinhos
Maria João
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