4.1.09

A RODA

A roda é a mais bela descoberta do homem e a única
existe o sol que roda
a terra que roda
existe o teu rosto que roda sobre o eixo do teu pescoço
quando choras
mas vós minutos não enrolareis na bobina da vida
o sangue lambido
a arte de sofrer aguçada como cotos de árvore
pelas facas do inverno
a corça louca de sede
que vem mostrar-me à beira de água
teu rosto de escuna desmastrada
teu rosto
como uma aldeia adormecida no fundo de um lago
e que renasce na manhã da relva
semente dos anos


Trad. Armando da Silva Carvalho.

Aimé Césaire nasceu no dia 26 de Junho de 1913 em Basse-Pointe, Martinica. Em 1931 foi estudar para Paris, onde fundou a revista L’Étudiant Noir. Regressado ao seu país natal, foi professor e fundou a revista literária Tropiques. Próximo de André Breton, que lhe elogiou o longo poema Cahier d'un retour au pays natal (1939), acabou por aderir ao Partido Comunista Francês. Dedicou-se à política, acabando por abandonar o comunismo e fundando o Partido Progressista da Martinica. Além de poesia, escreveu teatro e vários ensaios. Faleceu no dia 17 de Abril de 2008.