19.1.09

VERSOS ÁUREOS


Mas como! tudo é sensível!
Pitágoras

Oh! homem pensador, julgas que é em ti somente
Que há a razão neste mundo onde em tudo arfa a vida?
Das forças que tu tens tua vontade é servida,
Mas dos conselhos teus o universo está ausente.

Respeita no animal um espírito agente:
Cada flor é uma alma à Natureza erguida;
Um mistério de amor no metal tem guarida;
«Tudo é sensível!» Tudo em teu ser é potente.

Teme, no muro cego, um olho que te espia:
Pois mesmo na matéria um verbo está sepulto…
Não a faças servir a alguma função ímpia!

No ser obscuro às vezes mora um Deus oculto;
E, como olho a nascer por pálpebras coberto,
Nas pedras cresce um puro espírito desperto!


Trad. Alexei Bueno.



Gérard de Nerval nasceu em Paris a 22 de Maio de 1808. De seu nome verdadeiro Gérard Labrunie, adoptou o nome de uma propriedade dos avós maternos para assinar toda a sua obra publicada a partir de 1831. Para trás tinham ficado estudos de medicina, uma tradução do Fausto de Goethe, ocupações como tipógrafo e notário. Começou a publicar em 1826, com uma comédia intitulada Elegias Nacionais. Assíduo frequentador da boémia parisiense, foi também um viajante incansável. Em 1841 sofreu uma crise nervosa, as quais se repetiram várias vezes ao longo da sua vida. Traduziu Heine, escreveu várias peças teatrais e algumas obras-primas, das quais destacamos As Filhas do Fogo. Em 1855, vivendo na miséria, encontraram-no enforcado à porta de um albergue. O poema que aqui se reproduz foi copiado do livro As Quimeras (Hiena), à venda na melhor livraria do mundo.