Granizo
Não tem geologia o medo que sinto ao olhar o futuro. Não por mim, nem por ti, mas pelo que há-de ficar para lá de nós dois. Que temperaturas tão frias nos chegam dos céus! A agonia em que fico é a agonia em que me deito, sempre que olho no medo o tempo que virá. E escuto depois as pedras assobiando um vento de séculos passados, dizendo-me que sempre assim foi o gelo das noites. Caem agora contra o vidro, como que vindos de uma distância ausente, mas sempre aí estiveram à espreita do nosso pavor. Embora não tenha filiação, este frio há-de deixar filhos para o acontecer que será. Concluo daqui um som saído dos retornos: as balas, os rasgões, rastros de sangue a trilharem o caminho, novos prismas para um mundo gelado como o granizo de plástico a perfurar-nos a epiderme.
3 Comments:
tão bonito este texto! (tive mm de dizer isto!)
Gosto mesmo de ler estes seus textos.
Abraço,
Silvia Chueire
Obrigado a todas pelos comentários.
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