27.6.05

A JAULA

Lá fora há sol.
Não é mais que um sol
porém os homens olham-no
e depois cantam.

Eu não sei do sol.
Eu sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até de manhã
quando a morte pousa nua
na minha sombra.

Eu choro debaixo do meu nome.
Eu agito lenços na noite e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Eu oculto cravos
para escarnecer dos meus sonhos enfermos.

Lá fora há sol.
Eu visto-me de cinzas.


Tradução possível de HMBF.


Alejandra Pizarnik nasceu em Buenos Aires no dia 29 de Abril de 1936. Os seus pais eram imigrantes judeus russos. Estudou filosofia, letras e pintura. O seu primeiro livro, La Tierra Más Ajena, foi editado em 1955, tinha Alejandra 19 anos. Viveu em Paris entre 1960 e 1964, onde trabalhou na imprensa escrita, publicou poemas e crítica literária, traduziu poetas (Artaud, Michaux, Cesairé, entre outros). O regresso a Buenos Aires é marcado pela edição de algumas das suas obras mais representativas, nomeadamente Los Trabajos y Las Noches (1965). Noctívaga e frequentadora assídua de cafés literários, Alejandra Pizarnik sofria de depressão crónica. Acabaria por se suicidar aos 36 anos de idade.