12.7.05

ARTE POÉTICA

Que o verso seja como uma chave
Que abra mil portas.
Uma folha cai; algo passa voando;
Criado seja quanto avistam os olhos,
E continue tremendo a alma do ouvinte.

Inventa novos mundos e trata a tua palavra;
O adjectivo, quando não dá vida, mata.

Estamos no ciclo dos nervos.
O músculo pendura-se,
Como recordação, nos museus;
Mas nem por isso temos menos força:
O verdadeiro vigor
Reside na cabeça.
Por que cantais a rosa, ó Poetas?
Fazei-a florescer no poema;

Somente para nós
Vivem todas as coisas debaixo do Sol.

O poeta é um pequeno Deus.

Tradução possível de HMBF.

Vicente Huidobro (Chile, 1893-1948)

Vicente Huidobro, poeta vanguardista chileno, nasceu em 1893. Estudou em Santiago, tendo mostrado forte talento literário desde muito cedo. Escreveu os seus primeiros poemas quando apenas tinha doze anos. Ainda adolescente, viria a publicar um manifesto virulento contra toda a poesia anterior à sua. Em 1911 foi editado o seu primeiro livro: Ecos del Alma. Em Paris entrou em contacto com Apollinaire e Reverdy, com os quais viria a fundar a revista Norte-Sul. Poeta de uma autonomia extraordinária, rejeitou mais tarde o surrealismo, assim como o futurismo e todas as escolas poéticas que diminuíssem o poder criacionista do autor. Alguns dos seus poemas lembram os caligramas de Apollinaire, outros revelam o seu contributo para a renovação constante da poesia chilena. Fundou, em 1918, o grupo criacionista de Madrid, depois de haver participado nas implosões criativas do grupo Dádá. Morreu em 1948.