VIDA
Choveu; e logo da terra humosa
Irrompe o campo das liláceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liláceas!
Calquem, recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. Que tudo invadam
Não as extinguem, porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.
Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada... Que lumaréu!
Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.
Deixem! Não calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
- e se arde tudo? - Isso que tem!
Deitam-lhe fogo, é para arder...
Irrompe o campo das liláceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liláceas!
Calquem, recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. Que tudo invadam
Não as extinguem, porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.
Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada... Que lumaréu!
Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.
Deixem! Não calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
- e se arde tudo? - Isso que tem!
Deitam-lhe fogo, é para arder...
Camilo Pessanha (1867-1926) nasceu em Coimbra, tendo tirado o curso de Direito nessa cidade. Partiu para Macau e aí exerceu funções judiciais. O contacto com a cultura chinesa levou-o a escrever vários estudos e a fazer traduções de vários poetas chineses. Foram, todavia, os seus poemas simbolistas que largamente influenciaram a geração de Orpheu, desde Mário de Sá-Carneiro até Fernando Pessoa. Os seus poemas foram reunidos na colectânea Clepsidra, publicada em 1922, tendo sido Fernando Pessoa o principal mentor da edição. Camilo Pessanha morreu em Macau vítima do ópio. (in Projecto Vercial)
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