Era Um Redondo Vocábulo
Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa
José Afonso, Zeca Afonso, nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. A sua infância foi dividida entre a cidade natal e África, continente para o qual os seus pais foram viver em 1930. Em 1940 foi estudar para Coimbra, onde começou a cantar serenatas e foi introduzido na vida boémia. Em 1949 inscreve-se no primeiro ano do curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras, que concluirá apenas em 1963 com uma tese sobre Jean-Paul Sartre: «Implicações substancialistas na filosofia sartriana». Já na década de 50, é revisor no Diário de Coimbra e edita os seus primeiros discos. Em 1956 é editado o seu primeiro EP, intitulado Fados de Coimbra. De 1961 a 1962 segue atentamente a crise estudantil deste último ano. Convive em Faro com Luiza Neto Jorge, António Barahona e António Ramos Rosa. Expulso do ensino, em 1968 dedica-se a dar explicações e a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem Sul, onde é nítida a influência do PCP. Em Abril de 1973 é preso e fica 20 dias em Caxias até finais de Maio. Na prisão política, escreve o poema «Era Um Redondo Vocábulo». José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987.»
<< Home