1.º poema do livro de poesia " Os dias pequenos charcos",Presença,Lisboa,p.13, 1981, de Joaquim Manuel Magalhães.
PRINCIPIO
No meio de frases destruídas, de cortes de sentido e de falsas imagens do mundo organizadas por agressão ou por delírio como vou saber se a diferença não há-de ser um pacto novo, um regresso às histórias e às árduas gramáticas da preservação. Depois dos efeitos de recusa se dissermos não, a que diremos não? Que cânones são hoje dominantes contra que tem de refazer-se a triunfante inovação? Voltar junto dos outros, voltar ao coração, voltar à ordem das mágoas por uma linguagem limpa, um equilibrio do que se diz ao que se sente, um ímpeto ao ritmo da língua e dizer a catástrofe pela articulada afirmação das palavras comuns, o abismo pela sujeição às formas directas do murmúrio, o terror pela construída sintaxe sem compêndios. Voltar ao real, a esse desencanto que deixou de cantar, vê-lo mna figura sem espelho, na perspectiva quase de ninguém, de um corpo pronto a dizer até às manchas a exacta superfície por que vai onde se perde. Em perigo.
Entendo que me obriga uma certa trajectória de amor pela lucidez e desinteresse paroquial e de alergia à inveja e surda pequenez, a reproduzir este poema de 81 de JMM,do ano 1 da década de 80, admirável, sem dúvida, quando a poesia portuguesa mal refeita de sucessivos modismos, hermetismos balofos e outrors tiques estéreis, estava cada vez mais a afastar-se da Língua e comunidade que a justifica. É célebre uma "Carta a Herberto Helder",do mesmo autor,(JMM) onde outra vertente destas questões de influências poderosas e vórtices epigonais são referidos. Está no livro de ensaios "Os dois crepúsculos".
Estou a vontade, segundo a teoria aqui exposta em alguns comentários, para falar limpa e direi mesmo com enorme admiração de Joaquim Manuel Magalhães, pois nunca escreveu uma linha a meu respeito. Colaborou isso sim,em 2 números, dos CADERNOS DE POESIA - HÍFEN (1987-1999), uma pouco pretensiosa colectânea de poemas e poetas,que de semestral passou a anual, onde eu não pretendia mais nada de relevante, do que pôr estéticas e formas de escrita em contraponto, perdendo, quiçá, algum dinheiro, desígnio que alcancei. Talvez tivesse sido esse meu desprendimento, que moveu JMM a responder às solicitações da Hífen, o que já na época, me valeu invejinhas e olhares de soslaio. Por que será? Será só porque há gente que vive num profundo autismo e não ouve mais nada? Tenho de reler o José Gil... Peço desculpa ao INSÓNIA de invadir o seu espaço. E deixe tombar a chuva excrementícia, pois anulando-se os comentários livres, os blogues mais não são que solilóquios e sociedades de "elogio mútuo", como tão bem diziam os nossos génios novecentistas, da "geração de 70".
1 Comments:
1.º poema do livro de poesia " Os dias pequenos charcos",Presença,Lisboa,p.13, 1981, de Joaquim Manuel Magalhães.
PRINCIPIO
No meio de frases destruídas,
de cortes de sentido e de falsas
imagens do mundo organizadas
por agressão ou por delírio
como vou saber se a diferença
não há-de ser um pacto novo,
um regresso às histórias e às
árduas gramáticas da preservação.
Depois dos efeitos de recusa se dissermos não, a que diremos
não?
Que cânones são hoje dominantes
contra que tem de refazer-se
a triunfante inovação?
Voltar junto dos outros, voltar
ao coração, voltar à ordem
das mágoas por uma linguagem
limpa, um equilibrio do que se diz
ao que se sente, um ímpeto
ao ritmo da língua e dizer
a catástrofe pela articulada
afirmação das palavras comuns,
o abismo pela sujeição às formas
directas do murmúrio, o terror
pela construída sintaxe sem compêndios.
Voltar ao real, a esse desencanto
que deixou de cantar, vê-lo
mna figura sem espelho, na perspectiva
quase de ninguém, de um corpo
pronto a dizer até às manchas
a exacta superfície por que vai
onde se perde. Em perigo.
Entendo que me obriga uma certa trajectória de amor pela lucidez e desinteresse paroquial e de alergia à inveja e surda pequenez, a reproduzir este poema de 81 de JMM,do ano 1 da década de 80, admirável, sem dúvida, quando a poesia portuguesa mal refeita de sucessivos modismos, hermetismos balofos e outrors tiques estéreis, estava cada vez mais a afastar-se da Língua e comunidade que a justifica. É célebre uma "Carta a Herberto Helder",do mesmo autor,(JMM) onde outra vertente destas questões de influências poderosas e vórtices epigonais são referidos. Está no livro de ensaios "Os dois crepúsculos".
Estou a vontade, segundo a teoria aqui exposta em alguns comentários, para falar limpa e direi mesmo com enorme admiração de Joaquim Manuel Magalhães, pois nunca escreveu uma linha a meu respeito. Colaborou isso sim,em 2 números, dos CADERNOS DE POESIA - HÍFEN (1987-1999), uma pouco pretensiosa colectânea de poemas e poetas,que de semestral passou a anual, onde eu não pretendia mais nada de relevante, do que pôr estéticas e formas de escrita em contraponto, perdendo, quiçá, algum dinheiro, desígnio que alcancei.
Talvez tivesse sido esse meu desprendimento, que moveu JMM a responder às solicitações da Hífen, o que já na época, me valeu invejinhas e olhares de soslaio. Por que será? Será só porque há gente que vive num profundo autismo e não ouve mais nada? Tenho de reler o José Gil...
Peço desculpa ao INSÓNIA de invadir o seu espaço. E deixe tombar a chuva excrementícia, pois anulando-se os comentários livres, os blogues mais não são que solilóquios e sociedades de "elogio mútuo", como tão bem diziam os nossos génios novecentistas, da "geração de 70".
Boa tarde e a melhor poesia!
Inês Lourenço
Enviar um comentário
<< Home