6.6.06

Mails, gentis e perplexos.

in A Origem das Espécies.

Na íntegra: O Público noticia que há correntes de mails contra a Ministra da Educação. Deve haver. Recebi alguns deles mas ri com aquele que apelava para que se protestasse junto do Presidente da República porque a situação é tal que até houve «um economista» que escreveu uma crónica indecente na Notícias Magazine (JN & DN, ao domingo): «Colegas, temos deixado que nos enxovalhem e ficamos calados. [...] O senhor que assina a carta do JN devia ser processado. Creio que, neste momento isto toca as raias do abuso.» Fui ver (como no poema do Augusto Gil). Tratava-se do texto de Manuel Ribeiro «economista», que toda a gente sabe que é «página de humor» na NM (aliás, Manuel Ribeiro nem existe). Portanto, Blog dos Marretas e Inimigo Público, cuidado.
Comentário: tenho recebido dezenas de e-mails de ataque cerrado à ministra da Educação. São textos de opinião, cuidadosamente seleccionados, são cartoons, são cartas abertas, petições, material bélico da mais alta qualidade. À medida que os vou recebendo, o eco das palavras da ministra começa a substancializar-se dentro de mim: a culpa é dos professores, a culpa é dos professores, a culpa é dos professores… E eu, que acho que a culpa é só dos maus, tendo a convencer-me que alguns dos bons também têm a sua responsabilidade. Principalmente quando embarcam em furores destrutivos sem qualquer tipo de fundamentação lógica que se vislumbre. Estão indignados? Ainda bem. Mas eu não me lembro, já dos tempos de aluno, de ministro da Educação que não indignasse os professores. Nos tempos da PGA houve mesmo um debate inesquecível, moderado por Joaquim Letria, com um Vasco Pulido Valente a espumar raiva por tudo quanto era poro. Passados estes anos, a indignação permanece. Eu prefiro indignar-me contra o estado geral do ensino a indignar-me contra uma ministra que quer retocar esse estado geral. Mas neste país sucede sempre o mais previsível: os colegas indignam-se contra a ministra. Decalcando David Luz, se os professores tecem fortes críticas ao ministro da Educação (pronto, pronto, à ministra), então deve ser porque ela está a fazer bem o seu trabalho. Deixem lá a ministra em paz. Como diz a minha mãe, sejam amiguinhos uns dos outros. Não se agridam. Falem. A falar é que a gente se entende. Afinal, onde é que a ministra é assim tão péssima? Em dizer que a culpa do estado a que isto chegou é dos professores? Queriam que a ministra dissesse o quê? Que os professores são óptimos? Se a ministra fosse mentirosa seria mais competente? (TPC: reler o parágrafo sobre a mentira útil em A República, de Platão)
Henrique Manuel Bento Fialho
(professor profissionalizado)