Billie Holiday
Quando não se quer dizer que uma grande voz do jazz foi puta, diz-se que conheceu o lado negro da vida. É um pouco como aquela história das doenças prolongadas para as famosas vítimas do SIDA. O mundo da cultura transborda de personalidades autodestrutivas, alcoólicos, toxicodependentes, traficantes, até assassinos, proxenetas, pederastas, etc. No entanto, por vezes parece que esse lado negro da vida é um outro lado que não o lado da cultura. Talvez se queira fazer passar do mundo da cultura o lado oposto a esse lado negro, um lado níveo, diáfano, puro. Mas é preciso perceber que os dois são interdependentes. O canto de Billie Holiday jamais seria o mesmo sem o lado negro que o deu à luz.
1 Comments:
Boris Vian dizia que Billie Holiday era um veneno que depois de se provar nunca mais largávamos. Não há voz mais magoada no jazz, alma mais desesperada. Ninguém, como ela, exprimiu a desoladora e ao mesmo tempo luminosa vulnerabilidade da condição humana. Lady Day foi também a voz dorida e a revolta de uma raça, através desse hino arrepiante, durante muito tempo proibido na América, que é "Strange Fruit".
Se me permite, eu transcrevia as palavras de Leonard Feather, do seu livro "From Satchmo to Miles":
«Billie Holiday's voice was the voice of living intensity, of soul in the true sense of that greatly abused word. As a human being she was sweet, sour, kind, mean, generous, profane, lovable, and impossible, and nobody who knew her expects to see anyone quite like her ever again.»
Embora isto pareça disparate, durante muito tempo foi a mulher que eu mais amei.
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