O Negro e o Negro
Filipe Guerra despede-se até um dia da blogolândia. Compreendo-o, sobretudo nas desmotivações: «Como em todas as aldeias, a intrigalhada abunda, há egos tão pletóricos que qualquer dia rebentam.» Também eu ando cansado e às vezes apetece-me desistir. Mas desistir de quê? Aproprio-me de uma citação, trazida à memória n’O Vermelho e O Negro a propósito de uma dúvida que me vem assolando: «Ao espectáculo actual correspondem portanto uma mitomania generalizada, uma plasticidade da pessoa e sobretudo uma ocultação completa da realidade vivida. O desempregado, o trabalhador, o telespectador, o quadro humilhado, identificam-se mais com Bill Gates, Marcola, Zidane, Ben Laden, com o sedutor ou a sedutora da última novela televisiva do que com a sua consternadora realidade, a qual não tem qualquer lugar neste espectáculo. A mitomania generalizada actual resulta muito de um vazio abissal da personalidade, de uma ocultação completa do sujeito vivo individual (cujo sintoma mais extravagante é a alexitimia [défice de verbalização das emoções]). Se o espectáculo conseguiu dominar toda a vida social moderna foi, em primeiro lugar, porque se deparava com um tal vazio e porque permitia colmatá-lo ilusoriamente.» É por a blogolândia também não escapar a isto que por vezes me apetece desistir de supô-la um refúgio, uma alternativa, assim como que um novo parque de diversões que me proteja do mundo de todos os dias dentro desse mesmo mundo de todos os dias. Deixem-me ser piroso: eu fui por aqui ficando porque pensava que isto era um jardim. Mas afinal isto revelou-se mato grosso, um espectáculo por vezes degradante de intriga, vaidade, presunção, motivado pelo pior que há nos homens: o rancor e a frustração. O que me mantém? Alguns jardins. A teimosia.
12 Comments:
A blogolândia só faz sentido se pretendermos que não somos lidos. No meu caso nem sequer é preciso pretender. :)
haveria muito a dizer, ate porque o bloguista que se retira eh, de todos os lusobloguistas, o unico grande agente civilizacional portugues. mas so me dedico a duas: o que eh isso da intrigalhada, e em que eh que interessa? nao estou com superioridades olimpicas, mas nao eh um bocado de arrogancia o pensar-se que se eh alvo de algo e que esse algo pode levar a outroalgo ainda pior? nao percebo o problemas, mas enfim ...
segunda, e agora nao vai critica, vai lamento (mas lamento surpreendido pois leio isto ah muito e nunca o imaginei assim): lamento que prefira o jardim, o mato tem muito mais piada, entenda, encanto.
(e ja agora, e muito menos passivel de acolher intrigalhada do que a miseravel harmonia de esquadria dos jardins)
saudacoes
pois, a cada um o seu mato - ca nas minhas machambas (que, como é óbvio e lógica não são mato, são aliás por definição desmatadas) não me aparecem mosquitos desses (um ou dois resmungões em três anos é coisa pouca). Afinal o meu é um mero jardim silvestre, a comparar com isso que descreve (apropriado nome então, o da insónia)
mas insisto, ainda que não valha a pena, para além da chatice (mas não provocará algumas gargalhadas? essa do CV avulso ...) que mal vem ao mundo (e aos bloguistas) a dita intrigalhada, e suas catanadas? Mas enfim, vejo do meu "mato" asseptico, não do jardim de feras alheio
por fim, é pena a partida do homem. mas que traduza, que traduza
cumprimentos, até ao seu próximo post sobre a blogosfera
JPT, quando é um acto isolado provoca gargalhadas. Quando se torna recorrente – o exemplo do CV é apenas um exemplo, talvez o mais caricato -, desgasta. É isso que por vezes sinto: desgaste e saturação. Se bem se lembra, já acabei com um weblog pelas mesmíssimas razões. aqui sempre tenho uma coisa a segurar-me os impulsos mais auto-destrutivos: os colaboradores.
Cá espero por si então, quando voltar a escrever sobre a blogolândia. :)
esse é um pecado que V. carrega, e que talvez justifique (entenda: o faça merecer) a intrigalhada que o acomete e a correspondÊncia maçadora - a destruição do UD foi um acto de lesa-bloguismo (que lhe provoca insónias?)
então até então
Fala-se de mim nas minhas costas, oh que felicidade. É que ainda tenho lá um blog activo. «Por fim, é pena a partida do homem. mas que traduza, que traduza» (jpt). Só não gosto do tom paternalo-arrogante. Além disso, ninguém me manda foder, e muito menos traduzir (só a minha mulher).
Que fique claro, FAG, que eu não falei de si senão para lamentar a sua despedida lá n'O Vermelho e o Negro. Agora vou trabalhar. Inté.
Filipe Guerra, foda-se! Triplo foda-se. "PAternalo-arrogante, mandar traduzir"? Mas que raio de leitura a sua, que coisa. Faça o que lhe apetecer, blogue ou não, traduza ou não. Se se ofende com isto, ofenda-se
(o technorati, quando funciona, não deixa que se fale pelas costas quando há links - coisas deste mato; nem me parece que fosse essa a intenção de quem aqui comentou)
hmbf - eu sei.
jpt - De acordo consigo quando diz que isto dos blogs não é grande agente civilizacional português (?)e, digo eu, por mais geniais que sejamos (não falo por mim porque tinha muito génio em criança mas a minha avó tirou-mo com o chinelo). Quanto ao resto, entendi assim, mas se você diz que não... para que havemos de nos encrespar?
Uma das vantagens de ler os blogues no leitor rss é que se faz o bypass de tudo o que é comentário. Há um ou outro raro blogue onde por vezes deixo umas letras ordenadas na caixa, mas na maior parte o que me faz não desligar a subscrição é o conteúdo das entradas.
Mas tenho desligado muitas portuguesas nos últimos tempos (falta de pachorra para conversa mole ou pretensiosismos)
Que é isso do rss, Mário?
RSS, significa Real Simple Syndication. Trocando por miudos, é uma forma de ler blogues sem ter de os abrir um a um.
Funciona desta maneira:
1) O blog para além das entradas que se lêm normalmente através da página do blogue, também "publica" aquilo a que se chama um "feed rss" com cada entrada de uma forma "codificada" parecida com o html, mas que é destinada a ser lida por um programa "leitor" de "feeds rss".
Exemplo de leitores muito bons:
http://www.google.com/help/reader/tour.html
http://bloglines.com
2) Quero seguir alguns blogues e não perder uma actualização, então verifico se eles têm um "feed rss" e se tiverem adiciono-o ao leitor (ao introduzir um endereço no leitor este geralmente detecta automáticamente se há um "feed" disponível).
3) Depois de adicionar vários "feeds" ao meu leitor, basta esperar que este vá buscar os "feeds" actualizados. Cada vez que o autor actualiza o blog o "feed" é actualizado e o leitor veriica a intervalos regulares cada um deles.
4) A seguir o melhor é estabelecer categorias no leitor para melhor organizar os "feeds" e ler sem perder pitada.
Como disse, desta forma não vemos o design do site de origem nem os comentários, mas poupamos tempo ao ver num único programa tudo o que nos interessa (se houver tempo).
Os leitores que indiquei são baseados na web, vêm-se no IE ou no Firefox, o que tem a vantagem de podermos consultar o leitor em qualquer pc ligado à net. Também há programas para instalar no pc, mas não são tão práticos.
Espero ter esclarecido :)
Para qualqer coisa há sempre o mail.
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