22.11.07

A MÚSICA DAS QUOTAS

Fico a saber, através do Retorta, de uma interessante discussão sobre a chamada Lei da Rádio, prevendo que «seja emitida entre 25% e 40% de música portuguesa nas operadoras nacionais, cabendo ao Governo determinar a percentagem anualmente». Que caiba ao Governo determinar a quantidade de música portuguesa a fazer parte da «programação musical dos serviços de programas de radiodifusão sonora» já é razão mais que suficiente para não estar de acordo com tal lei. Aliás, torço sempre o nariz a tudo o que meta quotas ao barulho. Tendo a desconfiar das quotas por me parecerem quase sempre métodos esfarrapados para disfarçar os buracos negros do mundo em que vivemos. E ver o Governo a meter as manápulas na programação musical das rádios, obrigando-as a cumprir com tanto de tanto de música produzida interfronteiras, é algo especialmente incomodativo. Vocês já imaginaram o que seria obrigarmos os prontos-a-vestir a venderem 25% a 40% de roupa produzida em Portugal? Esta pergunta de Francisco José Viegas faz todo o sentido: Se o legislador pode «evangelizar» a propósito da «música portuguesa» (falando do património, dos valores, das nossas coisas), o que o impede de evangelizar acerca da gastronomia, do futebol, da arte em geral, das raças caninas? É uma coisa um bocado achinesada, esta do Governo querer obrigar quem vende a vender o que o Governo acha, lá do alto da sua sabedoria, que deve ser vendido. O que me apoquenta não é que as rádios portugueses passem mais ou menos música portuguesa. Apoquenta-me muito mais que não existam programas sobre música na televisão, seja ela portuguesa ou de outra nacionalidade qualquer. Apoquenta-me que o público português ainda seja tão tímido no que respeita ao consumo de música portuguesa, nomeadamente quando pensamos em frequentar concertos. Dá-se mão de 50 ou 60 euros por qualquer porcaria que seja capa da Mojo, da Rolling Stone, da Q, etc., para depois achar caro um concerto de um artista português ao preço de 10 ou 15 euros a entrada. Quanto à qualidade da música portuguesa, não falo. Acho que é como as outras. Há de tudo, para todos os gostos e feitios. O que tenho a certeza é que nunca houve tanta quantidade. É certo que o mesmo não se pode garantir quanto à qualidade. Mas não será assim em todo o mundo? Dito isto, as rádios que passem lá o que bem entenderem. No meu caso pessoal, não sou consumidor de rádio. Ouço muito raramente a Antena 1, apenas quando vou a conduzir e quase sempre de manhã. Pouco mais. Mas sou grande consumidor de música. Não tanto quanto gostaria, que o dinheiro não é muito, mas ainda vou comprando uns CDs e assistindo a uns espectáculos. Por exemplo, no próximo sábado conto assistir a este:


Rita Braga, no Trinca-Espinhas, em Caldas da Rainha, no próximo dia 24. Ver/Ler entrevista.

2 Comments:

At 12:22 da manhã, Blogger Unknown said...

estou de acordo com a tua opinião e nunca tinha pensado em tais intrigantes comparações.

Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com

 
At 9:49 da manhã, Blogger Lourenço Bray said...

Qualquer pessoa de bom senso tem de estar de acordo. De qualquer forma, a lei é inútil para potenciar vendas de música de cariz realmente portuguesa. Em França, onde a lei já existe há mais tempo, foi um descalabro. Em vez de ouvires Britney Spears ouves 3 ou 4 sucedâneos franceses ainda piores. Cá já começa a haver uma "indústria pesada", de que os Dzrt foram o melhor exemplo. São esses que vão ocupar o espaço vazio. Mas uma coisa eram os anos 90. Outra é o século XXI e a Internet. Vou colocar um video de uma entrevista do tom yorke que diz tudo sobre isto.

 

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