8.11.07

UM SORRISO NOS LÁBIOS, APESAR DAS MICOSES

Como cá em casa somos muito ecuménicos, despendemos muito do nosso tempo em festejos. Tratando-se de uma família rasa em termos de carteira, os festejos são festejados em tom ameno, sem grandes ondas, mas sempre com o coração palpitando de alegria. Por esta altura andamos muito entretidos com o ano novo hindu, o qual começámos a preparar no dia das bruxas e nos serve de intróito ao Natal. Logo de seguida teremos, como todos os portugueses, o nosso benquisto ano novo, que não dispensamos comemorar, pela metade, em toada Muharram. Lá para meados de Janeiro actualizaremos o ano novo ao estilo ortodoxo, em ânsia pela chegada de Setembro quando celebraremos o Rosh Hashaná. Entre tanta festividade, justificada, como revelei, pelo nosso ecumenismo militante, não podemos deixar de destacar a alegria com que recebemos, cá em casa, a chegada do Carnaval, da Páscoa, demais momentos de alegria, afecto, celebração e solenidade. Cá em casa somos, sem dúvida, muito celebrativos. Gostamos da vida, amamos o mundo, mais ainda os povos que o compõem e lhe dão cor, luz e alegria. Olhamos o pó que se acumula debaixo da cama, as fendas que se alargam no tecto, as teias de aranha disseminadas pelas divisões, com aquele sorriso mareante de quem mergulha a pique na existência. Somos muito amigos dos nossos amigos, contributivos, comparsas de primeira. É verdade que o bairro é pobre, mas os ciganos dão-lhe alegria. Com eles vestimos roupa nova no ano novo, damos corda à garganta, batemos palmas, dançamos com os pés contra a terra, levantando à altura do queixo a poeira que trazemos nos bolsos para, está de ver, distribuirmos com alegria pelos amigos de penca indiscreta. Vantagens de viver numa cidade bem colocada, com excelentes vias - caso pretendamos pôr-nos na alheta e perto do mar, das ravinas, onde o suicídio tem sempre outro charme. Mas quem é que pode querer pôr termo à vida nesta piscina de alegria onde diariamente damos a mariposa do nosso andar por cá? Ninguém, a ver pelos rostos modulares que se passeiam neste distrito rico no negócio dos moldes. Somos uns privilegiados, o país é que não nota. Comemoramos diariamente na nossa alegria o fado da nação, adeus tristeza, até depois, morreram as vacas, ficaram os touros. E nós não somos de virar o rabo ao touro, somos de enfrentá-lo pelos cornos, de preferência cerrados, mas com aquele peito disparado para o céu dos temerários campinos. Ousamos amar a vida, adorar a existência e tudo o que a pátria nos tem de herança. Esta Europa é a nossa Europa, não vamos à tropa, isso é bom, não nos preocupamos com pilim, que o não temos, isso é vantajoso, andamos felizes de ócio, ainda que lhe chamem desemprego só por mau feitio, porque não sabem desagravar a vida, não sabem ser ecuménicos, aproveitar o bom que os calendários nos dão. Gajas nuas, por exemplo. Como no calendário do meu vizinho TóBé, homem viajado e avisado que sabe ser este mundo um bordel de Leibnizs todos em orgia na cidade de Bogotá. O mundo é esta caminhada pela serra, a vida é este ar puro de Montejunto, uma reserva, um natural, um Amílcar a pilhas, do outro lado da linha, dizendo: adiro, adiro, aproveito a promoção. Certamente, ficará muito satisfeito com a nossa proposta.

2 Comments:

At 1:34 da tarde, Blogger manuel a. domingos said...

gostei de ler

 
At 7:39 da tarde, Blogger hmbf said...

Obrigado

 

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