A BRASILEIRA
1. Mesa, cadeira vazia. A violência é eficaz contra o tédio. Por isso a tua mãe arruma demasiado a casa.
2. Na Casa da Música ela mostra as pernas ao subir. A descer apressa-se, o cabelo prende-lhe ao nariz e ela não lhe mexe.
3. Numa só manhã, em Braga, vi quatro mulheres compreenderem o meu ideal de beleza. Como não fui falar com elas, tomei mais um café e ofereceram-me uma cigarrilha.
4. Que raio de ideal de beleza que tu tens, tão universalmente válido para cada rua que encontras; só não perdi o guarda-chuva porque estava a chover.
5. A beleza é média ou aquelas quatro mulheres não teriam as roupas mais caras; foi o mundo que lhas ofereceu.
Contudo, esta média não é feita apenas da cidade de Braga. Inclui a inclinação das flores e o modo como gostaríamos que um astro pulsante reparasse em nós.
6. Só com o meu extremo orgulho é possível permanecer pobre e chamar o táxi nas coxas levantes delas.
7. Estou farto de ser um escravo da Beleza. Dêem-me as leprosas e as aleijadinhas!
8. Existe a média de cima e a média de baixo. A primeira serve para nos avaliarmos a nós, a segunda serve para não avaliarmos os outros. O pior é o resto.
9. Então ela veio até mim e disse: Surge et ambula. Esta frase já tinha sido proferida, ainda por cima num contexto bem mais dramático.
10. Acabar um texto com romãs ou laranjas ainda vá. Se for uma salada de frutas é piroso.
Rui Costa
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"A Brasileira do Chiado
Levo-te a passear pelo Chiado
Querendo, acima de tudo
Que te sintas como em casa
Mas mais coberta, dadas as circunstâncias
(Faz frio faz)
Vamos comer castanhas
E conversar com o homem inerte
Tu, fazes de conta que é o Mário de Andrade
Mas mais coberto
Eu, faço de conta que é o Pessoa
Mas menos desperto, dadas as circunstâncias"
Mário Lisboa Duarte
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