11.3.08

DIZEM QUE É AMIGO DO SEU AMIGO #9 (especial)


A muita gente terá passado despercebido o artigo de Luís Campos e Cunha no Público da passada sexta-feira. A mim não passou. Antes de mais, quero confessar que simpatizo com a figura de Luís Campos e Cunha. Acho que tem bom aspecto e gosto muito de o ler. Pelo menos, gostei de ler este artigo. Na verdade, o único que me lembro de lhe ter lido. Este homem, nascido em 1954, já com idade para ter juízo, mostra não perder oportunidades para abdicar, em doses recomendáveis, do juízo que se lhe reconhece. Licenciou-se em Economia, doutorou-se pela Columbia University, foi vice-governador do Banco de Portugal durante seis anos e Ministro das Finanças durante quatro meses. Esta larga experiência política obriga-o, no tal artigo intitulado Neither girls nor monkeys (só o título merecia uma tese de doutoramento na Columbia University), a armar-se «entre o herói e o escuteiro e defender novas condições remuneratórias para os políticos» (sic). Se alguém ainda não percebeu por que razão esteve este homem meros quatro meses no Ministério das Finanças, limpe então o entendimento de dúvidas. Duas razões:
- A primeira é explicada recorrendo à «reconhecida subtileza» de Vasco Pulido Valente, homem que, como todos sabemos, é de uma subtileza invejável. Que nos ensina a subtileza do Vasco? Ora tomem: «os partidos não se reformam pela mesma razão que “as meninas não reformam o bordel”». Toda esta subtileza, corroborada por Luís Campos e Cunha no seu artigo, permite-nos então concluir que, e passo a citar: «é condição necessária (entre outras) que mais pessoas se venham…» Paro aqui, tal como parei quando lia o artigo pela primeira vez, para voltar atrás e ler novamente: «é condição necessária (entre outras) que mais pessoas se venham…» O seguimento da frase não importa, caríssimos leitores. Basta-nos isto. Ideias subtis desta envergadura são o que o país necessita para sair da depressão. Mais dinheiro então para os políticos, pobres coit(ad)os interrompidos.
- A segunda razão, e peço a vossa máxima atenção para a mesma, é o que justifica a proposta subjacente. Diz Campos e Cunha que conhece quem esteja na «coisa pública» (há gente para tudo) apenas para granjear o prestígio que lhe permitirá engatar gajas boas. A linguagem aplicada no artigo não é tão corriqueira, mas basicamente é isso que Campos e Cunha afirma: «É que Freud ensinou-nos que há muitas pessoas suficientemente altruístas para sacrificar tudo por uma boa causa: o amor de uma mulher bonita, o prestígio e o estatuto social. Mas com tal atitude, na sua maioria, apenas pretendem granjear o prestígio e o estatuto social que lhes permite conquistar o amor de uma mulher bonita». Sendo assim, se bem percebi, para que a bota bata com a perdigota, o que aqui estará em causa é que os políticos ganhem mais para, desse modo, não terem que se dar ao trabalho de conquistarem mulheres bonitas só pelo estatuto e pelo prestígio. Não senhores. Se o objectivo é, como anteriormente foi alvitrado, que mais pessoas se venham, então, com mais dinheiro, os políticos poderão ir às meninas desafogar o órgão (sic x 2) e, por consequência, dar ao país tudo o que ele precisa: políticos sexualmente activos, maiores índices de natalidade, uma coisa pública rica e satisfeita, protegida do enxovalho que é não poder ficar mais que quatro meses aos comandos de um bordel (por mera falta de compensações remuneratórias).

P.S.: fiz algumas pequenas alterações no post para que possa ficar mais claro, a quem não atinja a pureza das palavras, o tom irónico do mesmo. Acrescento ainda que, na sequência de um comentário deixado na caixa dos, ocorreu-me a dificuldade de justificar as teses de Campos e Cunha quando os políticos ou, dito de outro modo, os sujeitos da coisa pública forem mulheres. Pretenderão também elas o prestígio só para cativarem os corações de outras mulheres? Revelará a tese de Campos e Cunha uma espécie de machismo encapotado? Eis algumas dúvidas que me assolam e me acompanharão, pelo menos, durante os próximos… cinco segundos.

2 Comments:

At 2:54 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu diria que eles (e elas) não querem "desafogar o orgão", mas antes afogá-lo, seja em que sítio for.
Sobre a "coisa pública" não acho assim tão mal. O homem quis aportuguesar o latinório - como o Vaticano fez com a missinha -,partindo da "res,re" que significa efectivamente "coisa" no sentido material. Daí a "res/publica" que deu a palavra "república".

O afrodisíaco do poderexplica como certas personagens quase detestáveis e até com taras e dificuldades sexuais, têm sempre grande margem de escolha para "afogamentos".

Por acaso, ou nem tanto assim, o Sena tem um texto em "Dialécticas Teóricas da Literatura", Ed. 70, em que se deixa de falsos moralismos e defende a inevitabilidade da prostituição.
Mas, para isso as pessoas precisam de já ter idade para ter juízo...

Note-se que não li o texto jornalístico e apenas me estou a reportar ao post, que pela vivacidade dos remoques li com gosto.

Cumps.
I.

 
At 3:36 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Ressalvo a declinação latina da "coisa" a que falta um "i", no genitivo.
"res,rei" como "dies,dei" - que é como quem diz: deus nos valha.
O latim era uma bela língua do paganismo. Os "cristões" é que a açambarcaram para os seus ritos e fés, pois era a língua de comunicação. por excelência do vasto império romano, uma espécie de inglês pandémico da Antiguidade.

Quando se deu o 25 de Abril, por pura ignorância e bacoquice pseudo-revolucionária, o Latim foi expurgado do Secundário, porque era coisa de padres. Afinal era coisa da "Arte de Amar" de Ovídio, por ex.

 

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