4.6.08

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #54

O CONTROL DOS ESCRAVOS


À vala comum onde foram lançadas as peças
do xadrez, foi atribuído um código de barras
invisível, pelos serviçais dos corteis da matança
religiosa, endinheirada pelo lucro dos voos
das mentiras sobre o globo e o Universo.
A água-benta há muito que virou petróleo.

Estão a controlar os passos os gestos
injectando-nos sonolência no desejo do prazer
e do saber. Amanhã irão controlar o que fazemos
à beira-mar, a travessia pelo cheiro do eucaliptal
ou se estou a escrever na tua sombra palavras
de denúncia sobre a nova ordem do poder e
os desígnios assassinos dos espiões electrónicos.

Continuarei contra a criação dos Estados Unidos
da Europa, o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, contra o Cartão de Identificação
com código de controle social-presidiário.
O povo formiguinha sempre sedento por beijocar
carrascos ditatoriais de sorrisos democráticos,
há-de votar o seu próprio controle terrorista,
pela segurança e... pela paz.

Pararão o meu corpo no dia em que ao escrever
os poetas devem denunciar a estupificação
planeada pelos abutres do poder económico
e a sua pulverização sobre a Terra
, desligarem
o micro-chip injectado (sem eu dar conta)
no hospital público quando por lá passar
para tratar das minhas tonturas vertiginosas.

Avistar um verso num dejecto do camaleão
é uma visão tão perigosa que poderá vir
a colocar em causa o sucesso da operação
de sincronizar milhões de cérebros pela
palavra farpada do televisor – a voz do poder.

Abro-a, e os ruídos dos carros bombardeiam
o silêncio. Volto a fechar e o silêncio sufoca
o medo. Abri de novo a janela e escorreu
um salpico de olhar pelo meu ombro até
ao sovaco por tão pouco um quase nada.

Estava traçado nos destinos, cruzarmo-nos
num olhar, num qualquer lugar e nada
absolutamente mais nada acontecer.
Nessa noite voltei a ver-te no pesadelo
arrastando um morto cavalo preto pela pata,
numa praia (parecia ser uma praia pelo cheiro
a sal). Dando um chuto no luar, abri uma
vereda sobre as águas para não acordar
a tristeza do mal dos meus remorsos.

Jorge Aguiar Oliveira