REPOUSA, CORAÇÃO DO EXAUSTO MUNDO
Repousa, coração do exausto mundo.
Schiu… adormece.
Homens e cidades mantêm suas frias e terríveis vigílias,
E o oceano rói estas nuas terras da dor.
Schiu… e adormece.
Esta rubra chuva…
Respirar…
Chorar…
Amar onde um só crime se cumpriu…
Achar mocidade, e fé, e a súbita congénie delas,
Sepultas fundo em gralhantes câmaras de horror…
Não.
É que não sabemos ver,
Que não sabemos ouvir
Que não sabemos cheirar,
Saborear, sentir, pensar;
Pois que decerto nenhum crer em céu ou terra
Suportaria o que, parece, possuímos;
Vivemos na sombra de uma sombra maior —
Mas há o sol!
E dele o homem terá vida,
E alívio terá de tantos crimes
Da sua mais brutal habitação…
Ó repousa, coração do exausto mundo.
Schiu… e adormece.
Há um tão belo trabalho para todos os homens,
E acordaremos enfim dentro do sol.
Tradução de Jorge de Sena.
Kenneth Patchen nasceu no dia 13 de Dezembro de 1911 em Niles, Ohio. O seu trabalho foi muitas vezes classificado de dadaísta e surrealista. Chamaram-lhe igualmente poeta do proletariado, o que se justificava tendo em conta a índole política dos seus primeiros livros. Na verdade, foi autor de uma obra diversificada. Gostava de ler poemas acompanhado por música jazz e dedicou parte do seu talento à poesia visual. Estreou-se com Before the Brave (1936). Um ano depois, na sequência de um problema na espinha, Patchen fica paralítico. Foi autor de vários livros, em prosa e verso. Faleceu no dia 8 de Janeiro de 1972.
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