6.1.09

Fragmento # 72 - Leituras incompletas

aqui referi que a gata Lua tem gostos muito requintados, coabitar com ela significa ter sempre por perto o melhor crítico; há alguns meses que a Lua não me pregava uma das suas partidas e confesso que esta me deixou a reflectir seriamente sobre as minhas desorganizadas leituras recentes: na mesinha de cabeceira encontra-se entre outras coisas, um amontoado de iguarias poéticas, adquiridas na melhor livraria do mundo de que são exemplo: “Tratamento de choque” de Karen Finley (Frenesi, 2003), “ Antologia da poesia feminina” (org. António Salvado, Jornal do Fundão, 1973), “Piedra y sol – poemas elegidos” de Octávio Paz (Visor Libros), “Cirrose” de Miguel Martins (Fenda, 2003) e “ Quando escreve descalça-se” de Miguel-Manso (Trama, 2008). A gata Lua que tem uma leitura voraz, nunca lhes tocou, resolveu sim atacar o último número da revista Nada, literalmente, mordeu algumas das suas páginas, sem eu dar por nada, acertou em cheio na questão da arte política. Deduzo assim que, ao contrário do que se passa comigo que ando entusiasmada com iguarias poéticas, a ela ou lhe causam respeito, ou não lhe interessam; a Lua continua a preferir outros registos para limpar o organismo. Quando adquiri “Autobiographie mutuelles” de Alberto Pimenta e César Figueiredo, o Sr. Changuito alertou-me que só poderia abrir o conteúdo desta obra das edições supondo que… em casa, evitando a presença de algum animal por perto; e assim foi, segui à risca, a descoberta do conteúdo deste exemplar foi um momento singular, guardei-o bem dentro de um armário com portas à prova de Lua, que só se abrem em ocasiões especiais e para pessoas peculiares. O Sr. Changuito sabe bem do que fala nestas questões, é um livreiro como deve ser, oiçam sempre bem os seus conselhos. Obrigada Mário Guerra e viva a república!

Maria João