5.6.06

CANTILENA

às vezes eu penso, ou então não penso.
às vezes cresço por dentro e então digo:
de quem é esta terra mais pequena, aquele
espaço no cabelo mais pequeno tão quando
a tua mão tão na minha? apertá-la é um lugar
muito perto. e digo ainda: quem é a locomotiva
de silêncio? lá fora é dia e a noite é um moinho.
sim, a planta entende as tuas pernas porque canta
nelas. a mão bate na cara, a canção hoje canta!
se alguém me perguntar eu digo que a beleza
é uma garganta toda azul a escorregar no céu.
e falo numa máquina feia de segredar ao ouvido.
quero comer o mar
quero um silêncio assim durante quinhentos poemas


Rui Costa

Rui Costa nasceu no Porto em 1972. Estudou Direito em Coimbra e foi advogado durante seis anos, em Lisboa e Londres. Concluiu um mestrado em Saúde Pública em Leeds, Inglaterra. Foi um dos vencedores do Concurso Jovens Criadores/97, do Clube Português de Artes e Ideias. Em Maio de 2005 publicou A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, livro vencedor do Prémio de Poesia Daniel Faria 2005.

9 Comments:

At 9:56 da tarde, Blogger MJLF said...

olha o Costa, está tão desfocado, é pena, o poema é muito bonito.

 
At 11:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

De Coimbra a um blog. Qual é a distância?
Belo poema!

 
At 12:29 da manhã, Anonymous Anónimo said...

as palavras sôfregas, tão sôfregas que escreves, rui... devorei-as como sempre, com o mesmo prazer com que se termina um festim, lambendo os dedos e desejando mais do que ainda não se teve. que saudades de te ler assim, sofregamente. caiu-me bem, muito bem.

 
At 12:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Rui, acaba de ganhar um novo leitor.

Um abraço,
HMM

 
At 5:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

quero um poema assim por toda a sorte dos quinhentos silêncios.

Belíssimo.

 
At 10:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ás vezes penso que penso
e imagino-me a existir.

Gostei, contudo o este poema precisaria de super cola 3 para encaixar melhor dentro de si

 
At 12:11 da manhã, Blogger EU.CÁ.VOO.CAMINHANDO said...

(Fora do Contexto)

Não se se se será por aqui que te vou "encontrar", talvez sim, e somente para te enviar 1 sincero abraço pelo prémio em romance que obtiveste em terras algarvias.

(estamos em meados de Maio de 2007..)

 
At 6:20 da tarde, Blogger Aníbal Duarte Raposo said...

Gostei muito do poema. Tem mais um leitor. Se tiver pachorra passe por

http://apalavraeocanto.blogspot.com

ADR

 
At 3:50 da manhã, Blogger Flávia Muniz Cirilo said...

um silêncio durante quinhentos poemas! belas imagens!

parei aqui por conta de Maria Gabrila Llansol.

Onde leio mais Rui Costa?
abraços do Brasil,
flávia

 

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