PRIMITIVOS
Ouvi falar da gente civilizada,
os matrimónios temperados por conversas, elegantes e
honestos, racionais. Mas tu e eu somos
selvagens. Tu chegas com um saco,
entregas-mo em silêncio.
Sei logo que é Porco Moo Shu pelo cheiro
e percebo a mensagem: dei-te imenso
prazer ontem à noite. Sentamo-nos
tranquilamente, lado a lado, para comer,
os crepes compridos suspensos a entornar,
o molho fragrante a escorrer,
e de esguelha olhamos um para o outro, sem palavras,
os cantos dos olhos limpos como pontas de lança
pousadas no parapeito para mostrar
que aqui um amigo se senta com um amigo.
Tradução de Margarida Vale de Gato.
Sharon Olds nasceu em 1942 em São Francisco. Licenciou-se na Universidade de Stanford e depois mudou-se para a costa leste para se doutorar em letras na Universidade de Columbia. Publicou oito livros de poesia, entre os quais se destacam Satan Says (1980, vencedor do San Francisco Poetry Center Award), The Dead and the Living (1983, vencedor do Lamont Poetry Prize e do National Book Critics Circle Award), The Father (1992) e Blood, Tin, Straw (1999). Orienta várias oficinas de poesia nos Estados Unidos, é directora do curso de poesia criativa da Universidade de Nova Iorque e fundou o programa de escrita criativa para pessoas com deficiências físicas no Goldwater Hospital em Nova Iorque. Foi Poeta Laureada do Estado de Nova Iorque no biénio de 1998-2000. (In Satanás Diz, Antígona, Junho de 2004)
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