Realidade
Olho para a realidade desprovida de silêncios.
As coisas são o que são. Porém, há que ter em conta
a gravidade que as prende à terra.
Os signos são os poucos recados que a vida pouca nos traz.
São o muito desta vida
onde árvores se perfilam nas avenidas, e nas avenidas
o frágil contraponto de domingo se passeia
atento à soalheira chegada de famílias-à-beira-Tejo
alheias à semana que aí vem, onde cada um por si,
e a desrazão por todos,
irá colher as incertezas do amanhã.
Dos sentidos todos o que resta são olhos fechados,
tacto de treva onde a realidade acaba
como um promontório sobre o Outono: onde começo
a contar as folhas, a memória da sua queda, a avisada música.
Luís Quintais nasceu no dia 19 de Agosto de 1968, em Angola. Licenciado em Antropologia Social e mestre em Ciências Sociais, é, desde 1995, docente no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra. Foi precisamente em 1995 que publicou o seu primeiro livro de poesia, A Imprecisa Melancolia (Teorema), galardoado com o III Prémio Aula de Poesia de Barcelona. Em 1999 regressa à poesia, publicando Umbria (Pedra Formosa) e Lamento (Cotovia). Nesta mesma casa editorial publicou ainda os livros Verso antigo (2001), Angst (2002) e Duelo, valendo-lhe este último o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava referente a 2005.
1 Comments:
"Dos sentidos todos o que resta são olhos fechados(...)" essa frase é o coração do poema.
:)
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