Anónimo said...
Maldito é aquele que é amaldiçoado, contra quem se profere a Maldição. "Maldito" é uma das metamorfoses do "Romântico". Uma viagem "danada" no ego/alter-ego que uma poética adequada manifesta e uma biografia DEVE corroborar. Não há "Maldito" de vida anónima - esse será "apenas" criminoso. "Maldito" é, assim, uma etiqueta póstuma à expressão, dada por um grupo a outro. É um julgamento moral de actores realizado num tempo numa sociedade. Celine é "Maldito"? Quando? Para quem? E Sade? Quem é mais "Maldito"? E Marilyn Manson? Quem é que acha, hoje, que Rimbaud e Verlaine são "Malditos"? Há quem ache que Carl Orff é "Maldito". E se Nietzsche (e já agora Wagner) pode ser "Maldito" não o poderá Heidegger? E Hitler? O cabrão, bebedolas, drogado, machista, misógino, racista, xenófabo, ególatra, nauseabundo, cínico, filho-da-puta, decadente e, alem disso, uxoricida por engano, de alguns juízes leva a pena de morte, de outros a pena de não levarem a vida. Resumindo, "Maldito" é uma marca e um modelo de artista, como de um carro ou de um microondas, que serve para uns consumidores e não serve para outros. É um carimbo necessário para catalogação e replicação de identidades. Alguns diriam que "Maldito" é uma noção burguesa. Maldito é do âmbito do mito e da religião.
4 Comments:
Eu tamb´m já perguntava a mim mesmo por que raio este txto do Anónimo (é um nome) nunca mais vinha para a primeira página.
Caro Anónimo,
Excelentemente BEM DITO.
Além da convocação mítica e romântica, faltará reiterar que o "maldito" tem que ter talento inovador e não ser um mero epígono de epígonos. Será isso que o "salvará" de ser um monstro ou um mero delinquente.
Mas, parabéns pela sua lúcida síntese. Venha aqui, mais vezes! Creio que o patrono está de acordo comigo.
E,já agora, uma dúvida: os malditos vão de Férias?
Vi.
Interrogo-me: quem será este anónimo? Malditos anónimos.
Thanks for sharing that. It was fun reading it. :-)
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