ESTAMOS VIVOS
A noite presta-se ao crime, aos negócios sombrios, a rivalidades com desfecho sanguinário, como sucedeu recentemente nas zonas das discotecas do Porto e de Matosinhos. Quem frequenta a noite sabe que sempre foi assim, pois desde sempre se ouvem histórias tocadas com a surdina do medo, mergulhadas num lodaçal de práticas diabólicas para as quais é preciso ter o estômago da indiferença. Pelas bandas que frequento amiúde surgem relatos de vidas desfeitas à mesa do jogo, na cama da prostituição, nos tugúrios do tráfico. Ainda há não muito tempo foi uma puta regada com gasolina não muito longe de onde vos escrevo, e está por esclarecer o estranho assassinato do dono de uma discoteca de sucesso. Diz-se muita coisa, que maridos matam mulheres, que mulheres se vingam em maridos, que incêndios são ateados pela chama irreflectida das paixões, do ciúme e da inveja. Muitos crimes da noite possuem certas nuances indistinguíveis, misturam num só acto vários vícios, explicam-se por razões confusas que metem no mesmo saco ganância e amor, dinheiro e paixão. No fundo, sexo, drogas e rock ‘n’ roll sob o tecto sagrado do deus dinheiro. A gente pensa que é só nos filmes, nas Américas, matéria hollywoodesca. Mas essa matéria tem os seus vulcões. E esses são tão reais como estarmos agora aqui distraídos da sorte que temos.
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