Bloco de Apontamentos #64
MJLF, Dezembro, Acrílico s/papel, 21x15 cm, 2007
Para meias ou sapatinhos insones
Um vagabundo deambula em direcção ao largo onde o ancestral lenho arde na noite mais fria e longa do ano; as portadas das casas estão fechadas, excepto uma iluminada de azul, onde bate à porta. A habitante vai à janela, convida-o a entrar, perguntando-lhe porque traz aquele saco de plástico nas mãos; ele responde que são as suas malas, perdeu tudo e é o que lhe resta. A anfitriã apresenta-se como a habitante do tempo, mostrando-lhe as paredes interiores da casa cobertas de escrita, contando-lhe que a luz azul se acende no escuro quando escreve; ela repara que os olhos do viajante são dessa cor e diz-lhe que ele vê o mundo através do azul; ele queixa-se que os pés o estão a matar, sentando-se junto à lareira. A habitante do tempo conta-lhe que há vinte anos lhe cresceram asas nos pés, mas depois aterrou no chão e a terra passou a querer engoli-la em cada passo; foi então que ergueu a sua casa no tempo, um abrigo onde habitam estórias numa espécie de ruína de escrita. O vagabundo conta-lhe que há muito perdeu as palavras escritas e agora apenas caminha num silêncio sem rumo; ele sente o calor do fogo a adormecê-lo em paz. No dia seguinte, o vagabundo acorda no largo junto ao lenho que ainda arde, olha à sua volta procurando a casa onde pernoitou, mas não a encontra; ele repara que na sua mão direita tem uma caneta com uma luzinha azul dentro da carga; pensa então que sonhou, mas ao espreitar para dentro do seu saco de plástico, descobre uns deliciosos sonhos de abóbora.
Maria João
Um vagabundo deambula em direcção ao largo onde o ancestral lenho arde na noite mais fria e longa do ano; as portadas das casas estão fechadas, excepto uma iluminada de azul, onde bate à porta. A habitante vai à janela, convida-o a entrar, perguntando-lhe porque traz aquele saco de plástico nas mãos; ele responde que são as suas malas, perdeu tudo e é o que lhe resta. A anfitriã apresenta-se como a habitante do tempo, mostrando-lhe as paredes interiores da casa cobertas de escrita, contando-lhe que a luz azul se acende no escuro quando escreve; ela repara que os olhos do viajante são dessa cor e diz-lhe que ele vê o mundo através do azul; ele queixa-se que os pés o estão a matar, sentando-se junto à lareira. A habitante do tempo conta-lhe que há vinte anos lhe cresceram asas nos pés, mas depois aterrou no chão e a terra passou a querer engoli-la em cada passo; foi então que ergueu a sua casa no tempo, um abrigo onde habitam estórias numa espécie de ruína de escrita. O vagabundo conta-lhe que há muito perdeu as palavras escritas e agora apenas caminha num silêncio sem rumo; ele sente o calor do fogo a adormecê-lo em paz. No dia seguinte, o vagabundo acorda no largo junto ao lenho que ainda arde, olha à sua volta procurando a casa onde pernoitou, mas não a encontra; ele repara que na sua mão direita tem uma caneta com uma luzinha azul dentro da carga; pensa então que sonhou, mas ao espreitar para dentro do seu saco de plástico, descobre uns deliciosos sonhos de abóbora.
Maria João
5 Comments:
excelentes
gostei
Gostei muito. E a gravura é linda!
Felizes Festas, Maria joão!
Um abraço grande,
Silvia
lenho e abóbora, isso é uma cozinha patusca ah natal antigo! com rabanadas de vinho e formigos.
beijinhos,
Rui Costa
Obrigada a todos e feliz natal!
Maria João
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