10.1.08

CINCO POEMAS EUROPEUS #5

Nazaré (vila e praia)

Não a outra, mas essa: a que do Sítio nos aponta o ocidente
E depois outras rotas para todos os quadrantes:
a praia de dentro
o jardim de fora e do fundo da nossa pequena
silhueta
- morte que se negou.

A solidão da praia do Norte
o assombro da luz
que alimenta a penumbra
Tudo o que por alegria calamos num passo estugado e
um pouco temeroso
Não importa, dizias tu, além é o mundo e ouve-nos
- pequeno veraneante de roupas coloridas que a alguém entregou
sua voz seu segredo
seu nítido momento.

E agora
não a outra mas tu
a que não entra nessa história sagrada em que Ester
colocou seu cântaro perto do muro caiado
e que em Azarias achou seu derradeiro refrigério
A mão a asa perfeitamente modelada
e depois seu abalar para sempre, seu
trespassado e imperfeito corpo até à claridade
- bóias barcos refluir de vagas as máquinas
fotográficas ao ritmo do que de longe a serra da Pederneira
conserva e permite.

Não a outra mas tu
a que outrora vi entre céus e uma sombra fugaz
Meu íntimo refúgio igual a mil a cem a um apenas.
As flores os fogareiros para o trabalho do peixe a jorna entregue
a quem na memória retém surpresa e saudade

ou simplesmente no cimo da falésia avistou
horizontes ruas incólumes a escuridão das dunas.

Nicolau Saião
In Escrita e o seu contrário