10.9.05

Novela Nasal – 8º Episódio

O sistema imunitário tem um enorme conflito com a minha família e se me apanha desprevenida nos canais nasais ataca-me, aqui em casa estou muito mais abrigada. E o meu Macacão não me pode proteger 24h por dia, ele também tem o seu trabalho, tem a sua vida. Já lhe falei na hipótese de trabalhar comigo, na minha empresa de proteínas ranhosas, temos sempre tanta burocracia e papelada na empresa, um advogado fazia jeito; e ele seria um bom intermediário com os outros macacos, também poderia evitar as deslocações constantes das minhas irmãs à vizinhança, que são cada dia mais perigosas, elas são um bocado inconscientes. Mas o meu Macacão não se decide, apesar de praticamente viver aqui em casa; ele é muito independente, demasiado dono do seu próprio nariz, necessita de espaço. As nossas discussões têm sempre origem nestas questões, não estamos de acordo em relação a construirmos um futuro em conjunto. E sou eu que acabo sempre por ceder, porque o meu Macacão é um poeta, ele sabe como dar a volta às questões; ele tem alma profunda, oferece-me poemas tão bonitos, mal os leio, caio logo de quatro. No nosso primeiro encontro, ele saiu muito cedo aqui de casa, para ir trabalhar; eu nem dei por nada, estava a dormir, mas deixou-me um lindo poema na almofada. O meu Macacão é muito atencioso, sabe o que uma inflamação gosta. Apesar do seu porte sólido e viril, de ser irascível, é muito sensível.
Maria João