11.2.06

EPITÁFIO NUM MONUMENTO AOS MORTOS DA GRANDE GUERRA

Disse o nosso general
com o dedo no buraco do cu
O inimigo
é pr’ali marchar
Era pela pátria
Partimos
com o dedo no buraco do cu
A pátria encontrámo-la nós
com o dedo no buraco do cu
Disse-nos a marafona
com o dedo no buraco do cu
Morram ou
salvem-me
com o dedo no buraco do cu

Em seguida encontrámos o kaiser
com o dedo no buraco do cu
Hindenburgo Reischffen Bismark
com o dedo no buraco do cu
o grã-duque X Abdul-Amid Sarajevo
com o dedo no buraco do cu
mãos cortadas
com o dedo no buraco do cu
Deram-nos cabo das canelas
com o dedo no buraco do cu
devoraram-nos o estômago
com o dedo no buraco do cu
furaram-nos os colhões com fósforos
com o dedo no buraco do cu
e depois muito docemente
morremos
com o dedo no buraco do cu
Rezai por nós
com o dedo no buraco do cu


Tradução de Mário Cesariny.

Benjamim Péret
Benjamin Péret nasceu na França em 1899. Aderiu ao surrealismo na década de 20, após breve militância no movimento Dada, ao mesmo tempo que se associava ao Partido Comunista com o qual veio a romper mais tarde. Em 1924 dirigiu, com Pierre Naville, La Revolución Surrealiste e publicou os poemas D’Immortale Maladie. Viajou para o Brasil em 1929, militando no grupo trotskista local. Casado com a cantora brasileira Elsie Houston, foi deportado do Brasil em 1931. Data dessa época a destruição, pela polícia getulista, do livro O Almirante Negro. Entre 1936 e 1937 lutou em Espanha contra o franquismo, vindo posteriormente a refugiar-se no México. Já na década de 50, regressou ao Brasil. Escreveu sobre culturas indígenas e produziu uma obra poética e ensaística singular, reunida em vários volumes após a sua morte em 1959.