COM A SORTE QUE ANDO
Ameaçado pelo braseiro que se fazia sentir na pátria, fui arribar na praia em regime familiar. Isto foi ontem, e correu bem. Já no dia de hoje, uma série de fenómenos assaz estranhos (alguns serão guardados para prosas ficcionais) trouxe-nos de volta ao lar doce lar. Tendo adormecido, a noite passada, no sofá, acordei, não com o teu beijo, mas banhado por um sol tostadinho que fazia prever belos mergulhos e buracos na areia. Um fim de Verão catita, esfreguei as mãos. ‘Tá quieto. Subitamente caiu um manto de nevoeiro sobre a terra que a malta não via um palmo à frente do nariz. O calor foi-se todo, banhistas em debandada, Verão para a gaveta. Explica-se o fenómeno por um tal de microclima que, para pai de duas filhas em idade primaveril, é antes uma enorme dor de cabeça. Ainda chegou para algumas leituras, uma das quais há-de ocupar-me o resto da semana. Cito-a já pela coincidência. Trata-se do n.º 3 da revista Intervalo, dedicado ao tema da fuga. Isso mesmo, a fuga. Tal qual eu, mulher, crianças e cão, fugindo do nevoeiro de novo ao encontro do sol. Já sem praia, mas com o dito muito mais à vista, a pôr-se atrás da serra, enquanto a Matilde, num achaque de vaidade justificadíssima, sentenciava: Sou mais bonita que o pôr do céu. Estava convencido que o meu Sporting só bateria a bola às 19:45, pelo que, retornado à la Maison, ainda fui dar vista ao e-mail: saiu-me a lotaria no Burkina Faso!!! Não sei como, que não joguei, mas a verdade é que tinha 11 mails a "parabenizarem-me" pelo facto. A minha dota sorte não se fica por aqui. Ora vejam: We are please to inform you of the result of the just concluded annual final draws of UNITED KINGDOM NATIONAL LOTTERY international Lottery programs. Olaré! Vai-te embora ó nevoeiro, a sorte está connosco, Ana encomenda a lagosta, vamos ver a bola, o Liedson já deve ter facturado cinco ou seis. Não tinha facturado, mas a partida ia com 28' de jogo. Isto tem dois significados: o jogo não começava às 19:45, como eu supunha, nem começou às 19:15, como eu não supunha mas era, de facto, suposto que assim fosse. Eis um belo pretexto para me libertar da bílis, entretanto aferrolhava nos nervos: isto é sempre a mesma merda, marcam os jogos para uma hora e ninguém respeita, filha da puta de país que ninguém sabe cumprir horários, etc, etc, etc… Passei a primeira parte nisto, e a chamar nomes a um tal Xistra (isto deve ser nome de pedra) que nunca aprendeu o significado da chamada “lei da vantagem”. O que ele aprendeu foi que cortes não são passes, mesmo quando parecem. Eles, quando querem, até aprendem depressa. Enfim… resultado suadinho, mas com muito gosto, a sonhar com um Liedson que me resolvesse o nevoeiro. Pode ser. Quem sabe? Com a sorte que ando…
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