O edita por escrito
5.
A minha comunicação enquanto editor teve lugar no auditório do Teatro del Mar, às 19:30, do dia 1 de Maio.
Antes de mim, discursou uma velha a propósito de um projecto de publicar pensamentos profundos em copos e guardanapos. Queria, explicou, infundir a arte no quotidiano, à la Duchamp.
Eu cá quis dizer-lhe que podia aproveitar o discurso para publicá-lo em papel higiénico e pô-lo nas casas de banho do Edita, mas não me deram o dom da palavra para responder, só para a minha comunicação.
Após a minha comunicação, seguiu-se uma tipa com ar de quem gostava tanto, senão mesmo mais, de mulheres do que eu, a falar sobre direitos humanos e outras merdas mais que batidas, um jovem esquerdista que chegou atrasado e a quem, por já ter feito o que tinha a fazer, digo falar, estive tentado a ceder a cadeira como pretexto para sair do palco, e ainda um tipo com pinta de pirata que passou um vídeo com piada.
No final, perguntei ao Fernando Esteves Pinto se tinha sido perceptível o meu portuñol, ele disse-me que sim, mas eu igualmente me senti inseguro como se não tivesse perguntado nada.
Além de que tudo o que se perde na tradução de um idioma para o outro, onde sobretudo se perde é do que vai interlocutor ao outro. Eu fico sempre com a sensação que me fico pela metade, ou mesmo menos que a metade.
Os meus colegas de trabalho do aeroporto concordam, em coro, em que eu falo um castelhano fluente. Mas uma coisa, objectei, é enganar meia-dúzia de passageiros com meia-dúzia de deixas em como a mala vai chegar num dos seguintes voos, outra é falar do que é para mim ler e escrever, modos de representar a realidade e de a tornar menos difícil.
Costumam-me dizer que sou bom comunicador. Devo dizer que discordo. Aliás, tenho dito, mas ninguém concorda. Daí se depreende, digo desse desacordo, que eu não sou tão bom comunicador como isso. Dizem-me também que tenho carisma. Só se for carisma ao contrário, ou contra-carisma. De maldito, digo.
*
Na última noite do Edita, às onze e tal, subi ao palco do bar Reflexos para ler textos da revista Big Ode, a convite do corpo editorial, Rodrigo, Sara e Maria João, todos eles de corpo presente.
Primeiro li um texto do Henrique Fialho acerca duma vivência boémia em Barcelona. Depois fiz um dueto de um texto meu, com a Amanda, uma escritora mexicana, com quem tinha protagonizado outro dueto oral que não constava no programa e que, por respeito à organização, efectivámos longe da plateia…
Mas a organização faltou-nos ao respeito, na pessoa deferente como Deus que dá pelo nome do Uberto Stabile, e cortou ao meio a perfomance, por estarmos a exceder-nos no tempo e, pareceu-me, no álcool.
Foi foleiro. Usámos o mesmo tempo de antena e estávamos tão bebidos como toda a gente, perfomancers e plateia incluídos. Ai não com-tem co-mi-go tão ce-do!
Vítor VicenteA minha comunicação enquanto editor teve lugar no auditório do Teatro del Mar, às 19:30, do dia 1 de Maio.
Antes de mim, discursou uma velha a propósito de um projecto de publicar pensamentos profundos em copos e guardanapos. Queria, explicou, infundir a arte no quotidiano, à la Duchamp.
Eu cá quis dizer-lhe que podia aproveitar o discurso para publicá-lo em papel higiénico e pô-lo nas casas de banho do Edita, mas não me deram o dom da palavra para responder, só para a minha comunicação.
Após a minha comunicação, seguiu-se uma tipa com ar de quem gostava tanto, senão mesmo mais, de mulheres do que eu, a falar sobre direitos humanos e outras merdas mais que batidas, um jovem esquerdista que chegou atrasado e a quem, por já ter feito o que tinha a fazer, digo falar, estive tentado a ceder a cadeira como pretexto para sair do palco, e ainda um tipo com pinta de pirata que passou um vídeo com piada.
No final, perguntei ao Fernando Esteves Pinto se tinha sido perceptível o meu portuñol, ele disse-me que sim, mas eu igualmente me senti inseguro como se não tivesse perguntado nada.
Além de que tudo o que se perde na tradução de um idioma para o outro, onde sobretudo se perde é do que vai interlocutor ao outro. Eu fico sempre com a sensação que me fico pela metade, ou mesmo menos que a metade.
Os meus colegas de trabalho do aeroporto concordam, em coro, em que eu falo um castelhano fluente. Mas uma coisa, objectei, é enganar meia-dúzia de passageiros com meia-dúzia de deixas em como a mala vai chegar num dos seguintes voos, outra é falar do que é para mim ler e escrever, modos de representar a realidade e de a tornar menos difícil.
Costumam-me dizer que sou bom comunicador. Devo dizer que discordo. Aliás, tenho dito, mas ninguém concorda. Daí se depreende, digo desse desacordo, que eu não sou tão bom comunicador como isso. Dizem-me também que tenho carisma. Só se for carisma ao contrário, ou contra-carisma. De maldito, digo.
*
Na última noite do Edita, às onze e tal, subi ao palco do bar Reflexos para ler textos da revista Big Ode, a convite do corpo editorial, Rodrigo, Sara e Maria João, todos eles de corpo presente.
Primeiro li um texto do Henrique Fialho acerca duma vivência boémia em Barcelona. Depois fiz um dueto de um texto meu, com a Amanda, uma escritora mexicana, com quem tinha protagonizado outro dueto oral que não constava no programa e que, por respeito à organização, efectivámos longe da plateia…
Mas a organização faltou-nos ao respeito, na pessoa deferente como Deus que dá pelo nome do Uberto Stabile, e cortou ao meio a perfomance, por estarmos a exceder-nos no tempo e, pareceu-me, no álcool.
Foi foleiro. Usámos o mesmo tempo de antena e estávamos tão bebidos como toda a gente, perfomancers e plateia incluídos. Ai não com-tem co-mi-go tão ce-do!
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