O edita por escrito
6 .
Havia muito espírito de excursionista entre os editores do Edita.
Excursionistas sim, mas, alto aí, de elite e que se reconheciam iguais entre si e facilmente chegavam a um acordo.
Podia facilmente chamar de 69 intelectual. Mas para não me acusarem de brejeiro, diria antes que se tratava de contrabandismo cultural. Comércio claro, mas, alto aí, comércio com classe, pois há quem precise pertencer a uma classe para sentir-se com classe.
O meu íntimo sentiu-se invadido ao quererem identificá-lo como igual a uma infinidade de íntimos. Ao sentir-se rodeado pela predisposição para o acordo fácil e óbvio, fecha-se como um túmulo.
No final do dia, já não podia ver nem ouvir falar em livros. Só me apetecia debater, sei lá, a competência entre as marcas de combustíveis. Sentia necessidade de me demarcar e de me diferenciar. Mas nem precisei de abrir a boca. A minha imagem cuidada falava por mil palavras.
*
A viagem de regresso do Edita também teve o que se lhe diga de desdita.
Primeiro ia perdendo o comboio de Huelva para Sevilha. Mas a boleia da malta da Big Ode pôs-me a tempo de chegar a tempo e horas a Huelva. Termino e inteirar-me de que havia greve.
A alternativa era um autocarro que, além de excursionistas do Edita, levava ainda uma romaria de romenos. Ir pela estrada fora deu para ver a olho nu um pouco de Sevilha e ficar com vontade de voltar quando voltarem melhores dias que estes.
Cheguei ao aeroporto a tempo de apanhar o voo anterior ao que havia reservado para regressar a Barcelona. Tirei partido de pertencer à Companhia e liguei para o call center e mudaram-me o bilhete com todo o gosto e sem nenhum custo.
Sem nenhum custo a não ser o niñato andaluz, no assento diante do meu e a berrar “holá” como um disco riscado e resfriado. Mas a Companhia não me podia ajudar a encontrar a companhia certa para estar ao meu lado. Nem no céu na terra, amen.
Vítor Vicente
1 / 2 / 3 / 4 / 5
Havia muito espírito de excursionista entre os editores do Edita.
Excursionistas sim, mas, alto aí, de elite e que se reconheciam iguais entre si e facilmente chegavam a um acordo.
Podia facilmente chamar de 69 intelectual. Mas para não me acusarem de brejeiro, diria antes que se tratava de contrabandismo cultural. Comércio claro, mas, alto aí, comércio com classe, pois há quem precise pertencer a uma classe para sentir-se com classe.
O meu íntimo sentiu-se invadido ao quererem identificá-lo como igual a uma infinidade de íntimos. Ao sentir-se rodeado pela predisposição para o acordo fácil e óbvio, fecha-se como um túmulo.
No final do dia, já não podia ver nem ouvir falar em livros. Só me apetecia debater, sei lá, a competência entre as marcas de combustíveis. Sentia necessidade de me demarcar e de me diferenciar. Mas nem precisei de abrir a boca. A minha imagem cuidada falava por mil palavras.
*
A viagem de regresso do Edita também teve o que se lhe diga de desdita.
Primeiro ia perdendo o comboio de Huelva para Sevilha. Mas a boleia da malta da Big Ode pôs-me a tempo de chegar a tempo e horas a Huelva. Termino e inteirar-me de que havia greve.
A alternativa era um autocarro que, além de excursionistas do Edita, levava ainda uma romaria de romenos. Ir pela estrada fora deu para ver a olho nu um pouco de Sevilha e ficar com vontade de voltar quando voltarem melhores dias que estes.
Cheguei ao aeroporto a tempo de apanhar o voo anterior ao que havia reservado para regressar a Barcelona. Tirei partido de pertencer à Companhia e liguei para o call center e mudaram-me o bilhete com todo o gosto e sem nenhum custo.
Sem nenhum custo a não ser o niñato andaluz, no assento diante do meu e a berrar “holá” como um disco riscado e resfriado. Mas a Companhia não me podia ajudar a encontrar a companhia certa para estar ao meu lado. Nem no céu na terra, amen.
Vítor Vicente
1 Comments:
Vitor,
O momento da boleia foi dos que mais gostei no edita, a equipa big+bíblia+canto escuro, tudo apertadinho no mesmo carro com as malas, que coisa tuga calorosa!
:)
Maria João
Enviar um comentário
<< Home