12.11.08

O MAIS IMPORTANTE NÃO É O MELHOR #3

Estive a fazer contas. O inquérito acerca de livros que ardem mal é porreiro, pá e merece o nosso esforço. Eis os resultados até ao momento:

1) Qual é, em seu entender, o melhor livro de ficção (romance, novela ou conto) portuguesa do século XX?

A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós
Na Tua Face, de Vergílio Ferreira
Os Passos em Volta, de Herberto Helder
O Livro do Desassossego, de Bernardo Soares
A Casa Grande de Romarigães, de Aquilino Ribeiro
Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio

2) Qual é, em seu entender, o melhor livro de poesia portuguesa do século XX?

Geografia, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Poesias, de Álvaro de Campos
Memória dum Pintor Desconhecido, de Mário Dionísio
Limite de Idade, de Vitorino Nemésio
Aquele Grande Rio Eufrates, de Ruy Belo
Livro do Desassossego, Bernardo Soares

3) Se a pergunta não fosse «qual o melhor» mas sim «qual o mais importante», as suas respostas seriam as mesmas ou seriam diferentes?

Foram citados na ficção:
O Livro do desassossego, de Bernardo Soares
Aparição, de Vergílio Ferreira
Memorial do Convento, de José Saramago

Foram citados na poesia:
Mensagem, de Fernando Pessoa
Homem de Palavra(s), de Ruy Belo
Poesias, de Álvaro de Campos

Está provado que o livro do desassossego serve para tudo. Começo a imaginar perguntas alternativas no mesmo inquérito. Qual o melhor livro de auto-ajuda do século XX? E de esoterismo? Qual o melhor guia turístico? Qual o melhor ensaio? Qual é, sem seu entender, o melhor livro de BD do século XX? Para todas elas, creio, há um Livro do Desassossego à espera de leitor. Mas concentremo-nos na última questão do inquérito apresentado a “escritores, críticos e jornalistas da área da cultura”, os quais, como sabeis, nada têm que ver com os congéneres na área da suinicultura, da puericultura, da agricultura, avicultura, etc. É uma pergunta polémica. Logo, a mais interessante. Há quem responda sem pestanejar, há quem julgue que ainda estamos muito perto do século XX para podermos responder, há quem penteie franjas sobre o tema, há quem consiga ser tão sintético como se estivesse a falar de... sei lá de quê, há quem fuja à questão e há Fernando Guerreiro (que, sem grande surpresa para quem esteja minimamente familiarizado com o autor, responde exclusivamente à última pergunta): Discutir o cânone, ou sequer des-construí-lo, é algo que me diz muito pouco. O terreno da escrita-poesia - a poder-se, hoje em dia, ainda delimitá-lo nestes termos, isolando-o de outras práticas formais(-materiais): as imagens, os sons, os objectos ou práticas de vida - é um terreno móvel e convulso: as camadas geológicas alteram-se, sublevam-se, há terramotos (grandes e pequenos) constantes e instantâneos que revolvem o terreno, confundem os estratos, fazendo dele um tapete-rizoma orgânico-inorgânico, virtual- material em transformação contínua, decididamente não antropomórfica (a lógica do xisto não é humana). E pronto, está tudo dito.

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