26.9.05

Novela Nasal – 11º Episódio

A guerra existe talvez porque a lei da sobrevivência é a que vence sempre. Não aceitamos o que somos, que dependemos da natureza, que um dia morremos ao contrário dela. A natureza dá-nos tudo, mas também nos tira tudo e nós também somos natureza. Nascemos, vivemos e morremos, é um ciclo natural que não podemos controlar. Os seres não aceitam a sua condição de finitos, querem controlar o que está para além deles e como não conseguem, estragam o que está em redor, tornam-se destrutivos. Por mais que se desenvolva a cultura, a arte, o civismo entre os seres, tudo se centra num mesmo princípio: ser forte e ir à luta, eu tenho de ser o centro do mundo porque sou imortal. Mas porque é assim? Tenho pensado muito nestas questões ultimamente. Sobre a natureza, sobre a natureza que está dentro de nós também. Somos um espelho da natureza, deste milagre que nos rodeia, que tudo nos oferece. Sei isso desde que conheci o amor do meu Macacão. Compreendo agora como pode existir um encantamento inefável entre dois seres aparentemente tão diferentes, mas que através de uma troca de fluidos se tornam apenas um, num acto osmótico de pura magia. Nós os dois formamos um centro descentrado porque somos dois. O mundo devia ser formado por centros descentrados assim, em harmonia, multiplicados musicalmente por todo o universo. Entendo qual é o papel do amor no mundo, é anima, o que une os seres, um verdadeiro milagre. Acho que fiquei grávida na última osmose com o meu Macacão. Por isso tenho pensado tanto. Penso no mundo onde o meu filho irá nascer.

FIM
Maria João