IVG #38
O sacrifício pelo sacrifício é uma doença. Só o sacrifício que é fruto do amor possível é fonte de coragem. Mas é um exagero pedir às pessoas que desejam filhos viverem num permanente estado de heroicidade. Não adianta queixar-se da cultura hedonista pela falta de generosidade. Quando empresas e as organizações, através da publicidade, incitam aos prazeres mais imediatos e indeferíveis - casas de sonho, férias de sonho -, teremos uma minoria regalada e a maioria acumulando desejos e decepções e adiando sempre, por estas e por outras razões, a altura para ter descendentes. (…) É saudável, é normal que a lei de um Estado laico não tenha que estabelecer o que é bem e o que é mal sob o ponto de vista religioso. (…) É por isso que talvez não seja um absurdo perguntar aos cidadãos, como agora, em Portugal, no referendo, se se deve responder "sim" ou "não" à despenalização da interrupção da gravidez, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas, realizado a pedido da mulher. Não se trata de saber quem é e quem não é pelo aborto, neste prazo e nestas condições, mas quem é ou não pela penalização da mulher que aborta neste prazo e nestas condições. É inevitável a pergunta: dentro das dez semanas já existe vida humana, ser humano ou pessoa humana? Sobre o que é a vida, sobre o que é a vida humana, sobre o que é a pessoa, as linguagens do senso comum, das ciências, das filosofias e das religiões não são coincidentes. E, no interior de cada um desses ramos do conhecimento, o debate não está encerrado. (…) Creio que é compatível o voto na despenalização e ser - por pensamentos, palavras e obras - pela cultura da vida em todas as circunstâncias e contra o aborto. O "sim" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, dentro das dez semanas, é contra o sofrimento das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura da morte, da cultura do aborto, embora haja sempre doidos e doidas para tudo...
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