IVG #51
A revista Sábado aprecia capas com fetos. A do lado esquerdo data de 21 de Outubro de 2005 e promete-nos revelações fantásticas sobre tudo o que os bebés, assim mesmo, fazem, ouvem e sentem durante os nove meses de gestação. A do lado direito, de hoje, promete-nos respostas a tudo o que ainda não sabemos e que se julga imprescindível saber para votar no próximo referendo. São trinta e três perguntas(!) para trinta e três respostas que, por artes mágicas que não nos cabe determinar, os especialistas da Sábado estão em condições privilegiadas de revelar. Eles sabem, por exemplo, que se o SIM ganhar as mulheres que abortem após as 10 semanas continuarão a ser penalizadas, ao passo que se o NÃO vencer há sempre a possibilidade de a palavra do mestre Marcelo Rebelo de Sousa vir a transformar-se em lei: «a mulher não deve ser penalizada em circunstância alguma». Isto é só um exemplo das respostas que a Sábado dá às nossas dúvidas existenciais. São trinta e três perguntas(!), mais ou menos pertinentes, para trinta e três respostas, mais ou menos congruentes. Vejam bem o que uma pergunta tão simples e óbvia, a do referendo, faz. Para responder àquela pergunta parece ser absolutamente necessário responder a outras trinta e três perguntas(!). Esta malta estava bem era nas universidades a ensinar Filosofia, pois ninguém lhes pode negar espírito crítico e problematizante. Mas a questão do próximo domingo não é para grandes filosofias. Ela apenas nos coloca perante esta dúvida: deve uma mulher ser obrigada por lei a prosseguir com uma gravidez que não deseja? As pessoas que digam sim a isto, votarão NÃO no referendo. O seu voto significará a criminalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, empurrando as mulheres para a clandestinidade e para a obscuridade, empurrando-as para abortos perigosos em fases mais ou menos avançadas do processo de gestação. As pessoas que respondam negativamente àquela questão, votarão SIM. O seu voto significará a protecção da vida, na medida em que preservará o direito de alguém nascer quando desejado. Sou pai de duas filhas. Elas nasceram quando a mãe delas e eu decidimos que deviam nascer. O resto é conversa para filósofos de pacotilha. É lixo, é confusão, é verborreia.
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