24.2.09

APRENDER A CONTAR #69

17.

A vida. A vida é muito útil: serve para fingir que sabemos muita coisa, para fingir que gostamos dos outros, para fingir que somos alguém não o sendo e para querer ter muito poder. Eu, umas vezes, ponho a vida a tiracolo, para que as suas franjas arrojem o chão, outras, coloco-a à cabeça, e logo ela parece querer voar alçando-se ao céu. Certo dia pus a vida numa capoeira que tenho lá no quintal, mas ela, assim que se viu presa, começou a uivar no seu poleiro, pedindo-me para que a libertasse, e eu libertei-a mesmo, só que ela, desorientada, ao atravessar uma rua, foi logo atropelada. Ainda pensei arranjar outra vida, mas depois vi que não valia a pena...

7 de Junho de 1998

Oliveira Mateus (1952), in Movimento de Ninguém, Editorial Minerva, p. 29, Fevereiro de 1999.

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3 Comments:

At 9:41 da tarde, Blogger Victor Oliveira Mateus said...

Bons tempos!!! Creio que ainda se mantiveram: a ironia triste, a capoeira e umas marcas no asfalto, que, julgo, devem ser do atropelamento...

 
At 8:46 da manhã, Blogger hmbf said...

Parabéns.

 
At 3:19 da tarde, Blogger Victor Oliveira Mateus said...

Obrg! Vendo bem... é apenas mais 1!
Abrç.

 

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