Muito Bom: Vi e revi o
Prós & Contras da passada segunda-feira. Vi, na totalidade, na segunda; revi, parcialmente, na terça. Fiquei com a sensação de ter assistido a um momento raríssimo de debate, neste país de amorfos considerandos e simpáticas considerações. Olhos nos olhos, por vezes de dedo em riste, esgrimiram-se argumentos com uma acutilância que é, do meu ponto de vista, bastante saudável para qualquer país que se queira democrático. Pedro Lomba e Pedro Mexia já disseram:
primoroso,
um grande momento televisivo. Quem sou eu para discordar? Ao livro de Carrilho ninguém poderá usurpar o mérito de, pelo menos, ter já proporcionado um momento destes. A promiscuidade entre o económico, o político e o mediático, ali estampada, às claras, sem pruridos de espécie alguma.
Bom: José Pacheco Pereira e Emídio Rangel. O primeiro por ter desmontado, serena e inteligentemente, os vícios e as fragilidades do livro em causa. Perde apenas na insistência em alguns clichés inconsequentes -
«Se vives pela imprensa, morres pela imprensa.» - e nas comparações absurdas que faz entre os comportamentos de Manuel Maria Carrilho e Pedro Santana Lopes. Para percebermos a distância que os separa basta pensarmos, tomando de princípio o argumento de Pacheco Pereira, nas reacções às supostas queixinhas. Ainda assim, sobre Pacheco Pereira, Rui Costa Pinto diz o essencial:
«Pacheco Pereira, que sempre ganhou a vida, entre outras actividades profissionais, a dizer mal dos jornalistas e do jornalismo, o que é um direito que lhe assiste, esteve claramente do lado errado da barricada. Aliás, o seu desconforto foi evidente.» Ao contrário de José Pacheco Pereira, Emídio Rangel não quis concentrar-se no livro de Carrilho. Preferiu chamar a atenção para aspectos mais relevantes: o péssimo jornalismo de que Carrilho, como outros, foi vítima. As críticas pertinentes às abordagens ao putativo «vídeo familiar» e ao tratamento do debate entre Carrilho e Carmona – com o empolgamento desmesurado do «caso do aperto de mão», permanentemente servido sem qualquer tipo de enquadramento que não fosse o de procurar reduzir o debate ao gesto de Carrilho, transformando esse gesto num traço de carácter e omitindo a difamação de que Carrilho havia sido alvo – foram sendo entremeadas com dados interessantíssimos da última edição do
Expresso: «
Numa proposta, a que o Expresso teve acesso, enviada às agências de informação por uma entidade ligada à organização de eventos, podia ler-se um eloquente caderno de encargos: um mínimo de 15 inserções na Imprensa especializada, de 50 notícias e 10 entrevistas na Imprensa generalista e de 100 nas rádios nacionais. Na televisão exigiam-se 10 notícias, cinco das quais em «prime-time», e 100 referências na Internet».
Suficiente: Carrilho resolveu dar a cara, bem ou mal, por uma batalha inevitavelmente inglória. Ganha na coragem que demonstra ao fazê-lo, perde com a inexistência de provas sólidas sobre aquilo que diz. Em alguns casos, sem qualquer necessidade. Falar em coincidências não chega. Para convencer quem não acreditaria que o homem foi à Lua se o soubesse pela boca de Carrilho, é necessário algo mais. Dizer que escreveria o livro quer ganhasse quer perdesse as eleições, é matéria para gente de fé. O problema de personalidade de Manuel Maria Carrilho, tão bem retratado por Vasco M. Barreto em
post intiulado Vaidade, inveja e vacuidade, só é problema na sociedade portuguesa actual: uma das mais corruptas, indigentes e analfabetas da Europa. Por mais que Carrilho diga que o livro é sobre uma campanha, ninguém o tomará por outra coisa que não seja um exercício de vitimação, ressentimento, um livro sobre a derrota. A forma como o público olha Manuel Maria Carrilho revelou-se num extraordinário momento naquele debate. No primeiro quarto de hora de programa, Carrilho faz uma afirmação que merece palminhas da plateia:
«Você – Ricardo Costa –,
dobrado e ajoelhado à informação espectáculo, ficará sempre como o rosto do jornalismo mais vergonhoso que se faz em Portugal». A mesma afirmação é feita no final. Mas dessa vez já só se escutam alguns apupos. Do princípio para o fim do programa, a empatia de algum público presente com o filósofo foi-se invertendo. Por quê? É fácil de explicar: Carrilho nunca resistiu a responder na mesma moeda aos argumentos capciosos de Ricardo Costa. Para filósofo, deixou-se picar em demasia.
Mau: Ricardo Costa é, sem dúvida, um dos rostos do jornalismo espectáculo que se vai fazendo em Portugal. Tudo o que tem de mau, revelou-se neste debate. Fugiu constantemente ao essencial, recorrendo a factos passados. Começa o debate a falar de acontecimentos ocorridos em 1996. Acusa Emídio Rangel de já não ser amigo deste, de não ter telefonado àquele, de ter ido ao casamento daqueloutro, etc. Nem um único argumento contra o livro que fosse única e exclusivamente sobre o livro. Tudo o que disse teve por objectivo dar cabo da imagem de Manuel Maria Carrilho e passar um paninho quente pela actividade das agências de comunicação. Em Portugal chama-se a isto fazer o trabalho de casa. Escapou-lhe, acerca de uma reportagem sobre uma acção de campanha de Carrilho, a frase:
«Se calhar a jornalista tinha algum «parti-pris» com o candidato». Fernando Martins diz que
«Ricardo Costa foi algumas vezes infantil». Eu diria que ele não podia ter sido mais
tuga.
Muito Mau: O indivíduo que estava a representar a tal agência de comunicação de Cunha Vaz, o mesmo Cunha Vaz que afirmou isto ao
Expresso do passado dia 20:
«(…) em meados de Setembro, no final da pré-campanha, a equipa de Carmona Rodrigues estava com a impressão «que os jornalistas estavam com Carrilho.» Nessa altura, a estrutura do PSD «pôs o nosso trabalho em causa». Pela boca do visado, ficamos a saber que: 1. os jornalistas em Portugal estão mais com os candidatos do que com a informação; 2. cabe aos consultores de comunicação orientar os jornalistas na direcção de quem pagar mais e melhor. O indivíduo, o que esteve no programa, quanto a isto nada disse. Limitou-se a abrir a boca para citar Salazar, comparando uma afirmação deste com certa postura de Carrilho. Fez-me lembrar discussões da adolescência que terminavam invariavelmente, na falta de argumentos, naquele ataque caricato que consistia em acusar ao adversário temíveis tiques nazis. Como se por Hitler ter dito que amava a mãe ninguém mais pudesse dizer que ama a mãe. Foi tão ridículo a falar quanto a sua imagem com o livro do Professor ao colo.