SHOW OFF
Parece que a SIC fez um programa sobre weblogs, Internet, fraudes, perigos, Moita Flores, plágios, boatos, Sousa Tavares, calúnias, etc. Não vi, mas fui espreitar algures. Fiquei-me pela Moita a contemplar as Flores (alguém devia medir ao minuto o tempo que o Presidente da Câmara de Santarém passa nos media a falar sobre tudo e mais alguma coisa). A reportagem que precedeu o debate apenas espelha o pior que a televisão tem para dar. Curiosamente, o mesmo que o lado negro da blogolândia oferece: preconceitos, estereótipos, ideias feitas, lugares comuns, desinformação. No caso da SIC é mais grave, pois o canal veste uma capa de credibilidade que o protege da mais descarada estupidez. Coisa que não existe nos weblogs, feitos maioritariamente por gente comum, bastas vezes anonimamente, onde o grau de fiabilidade das afirmações está única e exclusivamente dependente do espírito crítico de quem lê. Miguel Sousa Tavares, que escrevia no Expresso, a 28 de Outubro de 2006, uma crónica manifestando-se preocupado com a impunidade dos cobardes e desavergonhados anónimos que puseram em causa a sua seriedade enquanto escritor, pratica sobre os weblogs o mesmo tipo de calúnia de que foi alvo. Generalizar a toda uma rede comunicacional os tiques, as taras, os vícios, as fantasias, de uns poucos é passar um atestado de inferioridade a um vasto conjunto de pessoas que despendem muito do seu tempo e das suas energias a praticar o que o país mais carece: o debate, a crítica, a troca de opiniões, os tais espaços de discussão e de polémica que andaram arredados durante demasiado tempo desta democracia de brandos costumes. Preocupa-me mais que ninguém se mostre verdadeiramente inquieto (não basta escrever artigos de opinião nos jornais) com as calúnias proferidas por figuras públicas que vão, também elas sempre impunes, continuando a gozar com meio mundo e a outra metade. Seria fastidioso dar exemplos. Quanto à primeira intervenção de Moita Flores, que não irei comentar por não me merecer qualquer comentário, espanta-me apenas a reacção de alguns bloggers. Aquele catastrofismo sensacionalista, aquela atemorização típica da ralé e das elites podres que se aproveitam do medo para apregoar medidas sempre em favor de si próprias, não deveria merecer tanto repúdio. É, como tem sido sempre, mero show off. Só diferente do vídeo acima reproduzido por ter uma graça que transforma o sketch num elevado momento de reflexão analítica.