31.5.08

SHOW OFF


Parece que a SIC fez um programa sobre weblogs, Internet, fraudes, perigos, Moita Flores, plágios, boatos, Sousa Tavares, calúnias, etc. Não vi, mas fui espreitar algures. Fiquei-me pela Moita a contemplar as Flores (alguém devia medir ao minuto o tempo que o Presidente da Câmara de Santarém passa nos media a falar sobre tudo e mais alguma coisa). A reportagem que precedeu o debate apenas espelha o pior que a televisão tem para dar. Curiosamente, o mesmo que o lado negro da blogolândia oferece: preconceitos, estereótipos, ideias feitas, lugares comuns, desinformação. No caso da SIC é mais grave, pois o canal veste uma capa de credibilidade que o protege da mais descarada estupidez. Coisa que não existe nos weblogs, feitos maioritariamente por gente comum, bastas vezes anonimamente, onde o grau de fiabilidade das afirmações está única e exclusivamente dependente do espírito crítico de quem lê. Miguel Sousa Tavares, que escrevia no Expresso, a 28 de Outubro de 2006, uma crónica manifestando-se preocupado com a impunidade dos cobardes e desavergonhados anónimos que puseram em causa a sua seriedade enquanto escritor, pratica sobre os weblogs o mesmo tipo de calúnia de que foi alvo. Generalizar a toda uma rede comunicacional os tiques, as taras, os vícios, as fantasias, de uns poucos é passar um atestado de inferioridade a um vasto conjunto de pessoas que despendem muito do seu tempo e das suas energias a praticar o que o país mais carece: o debate, a crítica, a troca de opiniões, os tais espaços de discussão e de polémica que andaram arredados durante demasiado tempo desta democracia de brandos costumes. Preocupa-me mais que ninguém se mostre verdadeiramente inquieto (não basta escrever artigos de opinião nos jornais) com as calúnias proferidas por figuras públicas que vão, também elas sempre impunes, continuando a gozar com meio mundo e a outra metade. Seria fastidioso dar exemplos. Quanto à primeira intervenção de Moita Flores, que não irei comentar por não me merecer qualquer comentário, espanta-me apenas a reacção de alguns bloggers. Aquele catastrofismo sensacionalista, aquela atemorização típica da ralé e das elites podres que se aproveitam do medo para apregoar medidas sempre em favor de si próprias, não deveria merecer tanto repúdio. É, como tem sido sempre, mero show off. Só diferente do vídeo acima reproduzido por ter uma graça que transforma o sketch num elevado momento de reflexão analítica.

FALAS MANSAS

Dezenas de pescadores entraram esta tarde na lota de Matosinhos e destruíram parte do peixe que aí estava armazenado, depois de alguns comerciantes terem recusado doar a instituições de solidariedade o pescado que tinham comprado. A polícia foi obrigada a intervir, havendo registo de dois feridos ligeiros. (...) Segundo a RTPN, um agente da PSP terá sido atingido na cabeça com uma caixa usada para o transporte de peixe e um pescador terá também ficado ferido nos confrontos, que só terminaram com a evacuação da lota. (...) Cerca de oito mil barcos portugueses cumprem hoje o segundo dia de paralisação em protesto contra o que dizem ser a falta de apoios do Governo para enfrentar o aumento acentuado dos preços dos combustíveis. Esta noite, registaram-se alguns incidentes nas lotas de Matosinhos e Olhão, com os pescadores a impedir os comerciantes de entrarem naqueles espaços para recolher pescado, alegando que ele teria chegado à lota depois do início da greve. (in Público)

Se vos chamarem vândalos, não ouçam. Se vos chamarem criminosos, tapem os ouvidos. Lutem. E guardem umas caixas com peixe podre para as próximas eleições. Que a vossa insubordinação seja apenas um sinal do que há-de vir.

MICROBIOLOGIA #15

UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE

O seu amor partira. Em desespero, ele atirou-se da Ponte 25 de Abril.
Simultaneamente, a alguns metros dali, uma rapariga fez o seu próprio mergulho suicida.
Os dois cruzaram-se a meio da queda.
Os olhos encontraram-se.
Houve uma química.
Foi amor verdadeiro.
Eles perceberam-no.
Três metros debaixo de água.

Jay Bonestell
(Versão [livre] de HMBF)

#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10 / #11 / #12 / #13 / #14 / #15

O edita por escrito

4.

Durante o Edita, nunca tive outro despertador senão o meu estômago. Quando a barriga dava horas, qual imperadora, eu levantava-me de um só pulo e arrastava o corpo-feito-cadáver para debaixo do chuveiro. Ao chegar ao Teatro del Mar, confirmava que não tinha vendido nada, mas não ficava assim tão aflito, pois o almoço era por conta da casa.
Os jantares, todavia, já eram por conta do que se havia vendido de cantos da casa e o pouco dinheiro que eu havia trazido de casa. Depois ia noite fora e não deixava que o dinheiro me disciplinasse as despesas e o destino.
Nunca fui a nenhuma comunicação vespertina. Na verdade, nem a nenhuma durante o dia.

*

Huelva consegue ser quase tão feio como o mais feio dos portugais possíveis. Punta Humbria, todavia, consegue ser quase tão bonito como o mais bonito dos portugais possíveis.
Assim que, durante os dias do Edita, me achei mais próximo do meu país do que do país onde me exilei, ou da região do país onde me exilei. A Cataluña, e Barcelona em particular, é um sítio especial, com uma identidade inimitável, a ponto de conseguir fazer do resto da Espanha uma nação estranha.
É óbvio que a Andaluzia se pareça menos com a Cataluña do que com Portugal, por estar geograficamente mais próximo, quase à berma. Mais que geograficamente, as próprias pessoas pareceram-me mais próximas dos portugueses do que dos catalães. Mas não necessariamente mais parecidas comigo.

*

Só uma capacidade diminuta de discernimento para não perceber que em geral a espécie humana é estúpida. Espanha não foge à regra e faz de quem não é estúpido uma estupenda excepção.
Aqui, no entanto, já conheci gente especialmente estúpida como nunca conheci em Portugal; já me perguntaram que idioma se fala em África ou se em Praga se fala português e já testemunhei espanto por um americano falar fluentemente inglês.
Creio que o espanhol médio é bastante mais ignorante que o português médio no que toca a cultura geral, pois não tem noções básicas de história nem de geografia, faltando-lhe assim as coordenadas para se mover no tempo e no espaço do conhecimento comum.
A Espanha, tal como Portugal e todos os países do mundo, além do seu homem médio, tem seus génios e a sua ralé.
Se fizermos um rastreio pela ralé mais rasteira de Espanha, seremos conduzidos até à Andaluzia. Os andaluzes que conheci na Cataluña são absolutos animais, pouco pensam e quando pensam é em comer, beber e foder. Se os espanhóis em geral são um povo estúpido, então os andaluzes são um sub-povo extremamente estúpido.

Vítor Vicente
1 / 2 / 3

30.5.08

FEIRA DO LIVRO

Na passerelle do Parque, desfilando entre fúcsias,
arbustos em flor e bananeiras, mostram-se os tops
enfatuados das boas maneiras. Trocam autógrafos
por elogios, dinheiro em caixa, retratos de família.
Espantam do caminho os bugios à cata dos saldos
que enfeitam a mobília. Com os rostos cobertos
d’alegria, apertam mãos lambuzadas pelo óleo
das farturas. E os modelos minguados curvam-se
ao passar pelos astros das sinecuras. Ali a linha jovem,
com aDN hereditário, mais a quasi linha aos pés
do signatário. De soslaio miram o desalinho,
a casmurrice doutros tantos. Alinhados em academia,
criticam no pasquim em nome de todos os santos.
Mais adiante a linha do actual Averno, mefistofélica
nas poses, angelical nas tosses com que brinda
em causa própria. E até já se vê, embora a custo,
a linha microbiótica. Que, não vá o diabo tecê-las,
se imiscui entre a despótica. Isto de fazer parte
é como ir ao mar. Mais vale prevenir do que remediar.

CONFUSO

Não consigo entender o que possa ser um debate: Infelizmente, muito esclarecedor mas pouco elucidativo.

NÚMEROS

Este texto da Fernanda Câncio é muito interessante, assim como os comentários subsequentes. A ideia do texto não é nova: os números, as estatísticas, as percentagens são o que quisermos fazer deles. A conclusão é básica: «Parece que a democracia, afinal, serve para alguma coisa - e que um país é tanto mais pobre quanto o quisermos pobre». Os comentários de tom elogioso não são menos curiosos, podendo resumir-se a isto: «Não vejo em Portugal mais miséria que em qualquer outro país europeu». É provável que tudo isto esteja certo, que ninguém precise de abrir os olhos ou marcar consulta no oftalmologista, mas não sei se não estarão igualmente certos os estudos que apontam Portugal como o país da UE onde o nível de escolaridade da população é mais baixo, um país ainda com 9% de analfabetos, onde os administradores ganham, em média, 32 vezes mais do que os trabalhadores das empresas que gerem, um país onde a justiça só é célere com quem não dispõe de meios para se defender, um país onde as dívidas das famílias superam em 29% os rendimentos. Não duvido que não sejamos um país de pobres materiais. A lotação esgotada no Rock In Rio não quer dizer nada, mas indica qualquer coisa. Talvez sejamos apenas pobres de espírito, amorfos, entretidos. E, como tal, pouco exigentes e facilmente consoláveis.

MICROBIOLOGIA #15

AMOR JUVENIL

Os amantes encontraram o génio da lamparina na praia.
“Por me terem libertado,” disse o génio, “concederei um desejo a cada um de vós.”
Olhando o rapaz nos olhos, a rapariga disse, “Desejo que sejamos amantes até ao fim do mundo.”
Olhando para o mar, o rapaz disse, “Eu desejo que o mundo tenha um fim.”

David W. Meyers
(Versão [livre] de HMBF)

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #52

MODINHA BICHAROLA



Levei-te para casa
e rãs, pás, trás.

Levei-te para o quarto
e pás, trás, rãs.

Levei-te para a cama
e trás, rãs, pás.

E trunca à tardinha
e à noitinha trunca trunca
e mais trunca p’la manhã.

(repisar sem parar)

Levei-te para…

Jorge Aguiar Oliveira

29.5.08

NEPOTISMO

O nepotismo é um mal antigo e universal. Em Portugal, é um cancro que nos deixa impotentes. Atravessa todo o tipo de classes, instala-se no corpo de todo o tipo de instituições, profissões, actividades. É uma doença medonha, com consequências tão nefastas que, julgo eu, grande parte dos males do país ficaria resolvido com apenas um pouco menos de nepotismo. Criámos monstros e agora não há como nos livrarmos deles. Pensando melhor, são agora eles que vão, por todos os meios, largando o lastro. Estamos reduzidos a isto, à condição de lastro. Neste meridiano já não há lugar para a excelência, nem para o mérito. Apenas lixo. Não reciclável. Faço minhas estas palavras, por todos os dias senti-las presentes, lúcidas, objectivas, verdadeiras. O descaramento que as motiva é de tal forma atroz que justificaria, por si só, o extremar dos meios de combate a este estado de putrefacção. Mas ninguém quer saber disto para nada. Enquanto o estômago não doer de fome, o lixo ficará por varrer porque andará tudo entretido com os seus pequenos afazeres domésticos. E quando o estômago doer de fome, não restará energia para o combate. Somos um país sem solução. Eu tenho 33 anos.

O QUE É QUE EU FIZ?!

A notícia de que a UE multou em 183 milhões de euros a BP, a Repsol, a Cepsa, a Nynas e a Galp por se envolverem na concertação de preços no mercado de betume para asfalto em Espanha vai deixar os portugueses… ainda mais interessados no Euro. A comissária europeia da Concorrência, Neelie Kroes, afirmou ser "inaceitável que as empresas tenham enganado os consumidores, as autoridades e os contribuintes espanhóis por quase 12 anos, através da partilha do mercado de betume para asfalto". Quem vai ressarcir os consumidores pela autêntica roubalheira de que foram vítimas? A Galp Energia diz que sabia mas não participou. É tão português, isto de saber e nada fazer.

28.5.08

MICRO-FICÇÃO EM CASABLANCA

O Centro Cultural Português / Pólo Casablanca, em colaboração com o Grupo Marroquino de Investigação do Conto Literário, organizou em Casablanca, no dia 23 de Maio, um encontro sobre micronarrativa (vou chamar-lhe micro-ficção) com a presença de escritores portugueses, espanhóis e marroquinos. Fez-se um panorama deste “não-género” em ambos os países e fiquei a saber que a publicação de obras de micro-ficção, sobretudo bilingues (árabe/espanhol) já leva em Marrocos cerca de uma década. Participaram, entre outros escritores “locais”, Abdelah Moutaki, Zahra Ramij, El Gharbaoui, Said Mountassib e Said Bourkrami. Em breve será publicado o novo número da revista Manga Ancha, com textos de autores dos três países. Gostei de ouvir os amigos árabes a falar português e fiquei com vontade de organizar um encontro triangular (Portugal, Espanha, Marrocos) em Portugal a propósito da micro-ficção.


(Fátima, aluna de português, a ler)




Filomena Alves (a grande dinamizadora do Centro Cultural Português) e Sara Monteiro (escritora portuguesa participante), no final do encontro, e já em Rabat.


De regresso a Lisboa para um pouco mais de chuva, e menos iniciativas pioneiras.

Rui Costa



PASSADEIRA VERMELHA

O Pedro Correia convidou-me a escrevinhar no Corta-Fitas. Pois bem, aproveito o convite para confessar o meu lado mais reaccionário. A opção não se fundamenta em quaisquer preconceitos acerca desta casa e dos seus ilustres moradores, mas confissões deste calibre seriam intoleráveis no meu tugúrio. Em que se manifesta, então, o meu lado mais “reaça”? Em pormenores tão simples como numa aversão epidérmica a certos processos de aculturação, o que, dito de outra forma, num conservadorismo inato quanto a matérias tão fundamentais como Carnaval, selecção nacional e língua portuguesa. Já sei, colocar a língua portuguesa no mesmo patamar das restantes matérias é facilmente censurável. Como certo dia terá escrito Pessoa (compreenderão que ninguém pode estar certo de que tenha sido realmente Pessoa, o Fernando, a escrevê-lo): “Minha patria é a lingua portuguesa”. E Pessoa escreveu isto num tempo em que sintaxe se escrevia “syntaxe”, ortografia escrevia-se “orthographia”, escrita era o mesmo que “escripta” e português terminava em “z”. Pelo menos era assim que o Fernando escrevia. Nada disto pode servir de argumento a favor do acordo ortográfico. Como diria o meu amigo Victor (ou será Vítor?), Henrique, eu mesmo, jamais poderá ser Enrique. Faltando-me o “H” falta-me o pouco de aristocrático que o destino me outorgou.

Continue a ler em Corta-Fitas.

PAÍS VIRTUAL

Para reclamar de um mau serviço, de uma empresa, de um produto, etc., já temos onde: www.livroamarelo.net . Por outro lado, se tivermos dúvidas sobre determinada empresa, podemos fazer uma pesquisa no próprio site. Não deixem de divulgar o que está mal ou não foi cumprido por uma determinada empresa. Assim, ajudamos os outros a não caírem na mesma asneira de contratar serviços ou comprar produtos que não prestam. Quantas mais reclamações forem registadas, menos possibilidades são dadas aos maus prestadores de serviços e produtos.

O Luís Pedroso fez-me chegar esta mensagem. Não me lembro quem, mas alguém me disse que solicitou o Livro Amarelo no Centro Distrital da Segurança Social de Leiria e não havia livro para ninguém. Portanto, sinto-me feliz: já posso queixar-me no livro amarelo cibernético da inexistência de um livro amarelo orgânico onde ele deveria existir. Isto faz todo o sentido, pois vivemos num país virtual. Quero queixar-me do Estado. Onde posso fazê-lo. No meu weblog?

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #51

UM GOLPE NA RACHADA



Desconsolada friccionava o clitóris, sonhando
com uma palhinha no refresco, em Salvador
aconchegada nos braços dum garanhão
do nordeste, figurante duma telebrazuca.

Encontrou um vigarão de lábia molhada,
falsificador e vendedor de sobreiros
com casca de ovelha e ovelhas com camisolas
de lã em ponto grosso. Em poucos meses
o pão a ficar com bolor e o leite a azedar.

Ao abandonar o croqui dos seus olhos melados
nas asas duma vareja pousada na sombra
do candeeiro sobre a mesa de cabeceira,
ofereceu-lhe ao ouvido, o desejo envenenado
de muita sorte, raspando-se dali em seguida
para parte incerta. Deixou-lhe para
os restos dos seus dias, um cacife repleto
de garrafas de whisky vazias, e um mar
de infindáveis perguntas ao espelho,
amparado nos braços as tripas da impostura.
Dívidas e assinaturas falsas de norte
a sul que para azar, os tribunais
continuam lentos como as lesmas.

Tropeços em degraus dentro duma vida
é coisa de aprendizagem. Não te acudi
porque não quis. Andava fraco, fraco
e moribundo. Quando escarraste na caixa
de mensagens do telemóvel e na cara
estar a ser egoísta por não ir em teu
auxilio, eu não me movi. Lembras-te?

Pouco me importou pensares ter sido
por vingança. E se foi, para mim foi justo.
A única vez na vida em que gritei
socorro
a tua ausência esteve presente, cabra.

Salva-te se puderes. Ainda és nova
e só estás danada por não seres comida
e ficado de prato rapado. Eu cansado vou
morrendo no leito da ausência do meu amor.

Recordarei sempre como linda era a lua
quando me falavas dela. Ao olhar lá
para cima, só a encontro se me lembro
de ti. Como vez, nem tudo ficou perdido.

Antes souberas dele abaixo do equador
sob palmeiras, com a palhinha num refresco
banhando-se numa praia de cabritinhas
ao som da música de Bonga.

Jorge Aguiar Oliveira

27.5.08

PLÁGIO À MODA DO ACORDO

O plágio é uma arte antiga e, em certos casos, apreciável. Mais recentemente, transformou-se numa actividade irresistível. Mas quase sempre depreciável. Tenho sido vítima de plágios. Quando são óbvios, denuncio-os. Acabei de descobrir mais um texto meu plagiado e mudado para português do Brasil. Está num weblog intitulado Resquícios iê-iê-ié: Station 7. O original foi publicado no Insónia a 12 do 12 de 2006. A versão brasileira a 15 do 10 de 2007. Deixo algumas das alterações, por me parecerem caricatas e, quem sabe, motivo de riso neste mundo incontrolável chamado Internet:

Original:
Pessoas amigas, preocupadas com a minha saúde, tentam convencer-me de que o número sete é mais importante que os outros.
Versão brasileira:
Pessoas amigas, preocupadas com o meu psico, tentam convencer-me de que o número sete é mais importante que os outros.

Original:
Dizem-me que sete são os dias da semana, os planetas, os graus de perfeição, as cores do arco-íris, os raios do raio do Sol hindu, etc.
Versão brasileira:
Dizem-me que sete são os dias da semana, os planetas, os graus de perfeição, as cores do arco-íris, os raios do raio do Sol hindu e mimimi, e também não é atoa que é meu numero da sorte, mais isso não importa e nem vem ao caso agora

Original:
A porca torce o rabo, e a gente troça com a porca, quando as pessoas que pensam estas coisas olham para as Pirâmides na actualidade e não conseguem ver nada de maravilhoso, sentindo então uma enorme frustração.
Versão brasileira:
A porca torce o rabo, e a gente troça com a porca, quando as pessoas que pensam estas coisas olham para as Pirâmides na atualidade e não conseguem ver nada de maravilhoso, sentindo então uma enorme frustração, como sinto-o.

Original:
…o Alhambra, em Granada, ainda mantém uma certa mística, assim tipo a mística benfiquista ou sebastianista ou coisa que o valha; o Coliseu de Roma só lembra coisas tristes…
Versão brasileira:
…o Alhambra, em Granada, ainda mantém uma certa mística, assim tipo a mística benfiquista ou sebastianista ou qualquer cousa que o valha ; o Coliseu de Roma só lembra coisas e mais cousas tristes…

Original:
Talvez o Machu Picchu seja mais agradável, mas dizem-me pessoas muito próximas que já lá estiveram que a única excelência da coisa é mesmo o local onde a coisa foi erguida.
Versão brasileira:
Talvez o Machu Picchu seja mais agradável, mas dizem-me que a unica excelência da cousa lá é mesmo o local onde foi erguida.

Original:
É bom que preservemos isso, sobretudo evitando ao máximo o turismo nesses locais, dificultando ao máximo o acesso humano a esses locais.
Versão brasileira:
É bom que preservemos isso, mas pelo o que vejo, o homem se mete em tudo, mesmo, e talvez daqui um tempo estas cousas que nos restam não continuem mais sendo aqueles tais cenários idílicos e lindos de morrer.

BOCA DE AFTAS

Há uns anos - não mais que 5, não menos que 3, provavelmente 4 -, numa troca de e-mails com uma senhora entretanto redescoberta por aí, foi-me perguntado se eu achava que toda a boa arte era triste. Ou terá sido se a arte boa nasce da tristeza? Bem, mais coisa menos coisa, foi algo parecido que me perguntaram. Eu não soube responder, nunca soube responder a questões deste género. Sei que há na arte uma dimensão de riso que nunca dispenso, seja sob as formas de ironia, sátira, sarcasmo ou cinismo. O riso, o sentido de humor, é algo poderosíssimo e esplendorosamente revolucionário. Hoje, durante uma conversa de trabalho, alguém que eu estava a entrevistar dizia-me que o sentido de humor é o que mais aproxima as pessoas da infância e menos as envelhece. É capaz de ter razão. O Lourenço diz que não sente “que a vida seja uma busca de felicidade”. E acrescenta: “Os modelos de pessoas infelizes dão ao mundo algumas das coisas que mais gosto, nomeadamente, romances e música de qualidade. São coisas que não fazem as pessoas mais felizes, pelo contrário, embora se pense que sim”. Tendo a convencer-me de que os espaços de criação são também espaços de recreação, mesmo quando têm origem nas fontes do mal, da tristeza, da agonia, mesmo quando assumem as contrariedades do trabalho, qualquer que ele seja. Não há nada mais engraçado que uma obsessão. Também não há nada mais desesperante. Talvez esteja errada essa divisão entre a felicidade e a tristeza, isto é, a ausência de felicidade (temporária ou permanente). Talvez todos sejamos, de alguma forma, seres bipolares. Talvez sendo bipolares, todos sejamos, de outra forma, únicos, singulares, uma unidade onde várias forças fervilham de um modo mais ou menos equilibrado. O desapego não resulta duma indiferença, de um desinteresse, muito menos da recusa autoimposta. O desapego, como via para a felicidade, assemelha-se mais, creio, a um sacrifício involuntário, como uma irresistível gargalhada numa boca cheia de aftas.

MICROBIOLOGIA #14

O COMEÇO

O telefone voltou a tocar. Ela fechou os olhos e suspirou.
Parte dela queria aderir à sua fantasia adúltera. Rodou a aliança no dedo e olhou o relógio. Bob não estaria em casa antes das onze. Levantou lentamente o auscultador.
“Uma vez,” disse-lhe ela. “Mas nunca mais.”

David de Vos
(Versão de HMBF)

26.5.08

O SEXO DOS ANJOS

Toda a gente sabe que os anjos não têm sexo. São como os weblogs. Talvez por essa razão não existam weblogs portugueses começados pelas letras X e Y. Ou existem?

O SENHOR E O ESCRAVO

Para o manuel a. domingos

o escravo não queria ser senhor
queria apenas não ser escravo
quando deixou de ser escravo
quis ser senhor mas quando quis
ser senhor já não era escravo

VER CHOVER

No próximo dia 30 será lançado o número 4 da revista Callema. Tenho por lá um texto, intitulado Recuperar Ema, onde falo do jovem Manoel de Oliveira, de Madame Bovary, do Maio de 68, de Tiananmen e da Birmânia, de "mulheres-bibelot" e de "jotinhas". Mas o que eu queria mesmo ter dito, e esqueci-me, é que há pessoas que não merecem ter sido jovens. Falam da juventude com um desprezo, referem-se aos seus tempos de juventude com uma tal displicência que, sem dúvida, o melhor era terem nascido adultas, velhas, caducas, a coxear numa insensível maturidade, insuportavelmente calculistas e pretensiosas. Lembro-me disto depois de ler o Rui Bebiano refrindo-se aos “nossos” «ex-maoístas, por exemplo, que insistem em falar do seu próprio passado como de uma velha medalha oxidada». E, já agora, aproveito para responder a esta questão:

É impressão minha ou os revoltosos só querem estar no lugar daqueles contra quem se revoltam?

Os revoltosos querem coisas diferentes conforme as revoltas. Uma coisa é certa: não se acomodam, não se conformam, exigem. Por isso revoltam-se. Basicamente, não se limitam a ver chover.

LABIRINTO #26


Maria João

#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10 / #11 / #12 / #13 / #14 / #15 / #16 / #17 / #18 / #19 / #20 / #21 / #22 / #23 / #24 / #25

MICROBIOLOGIA #13

O SONHO

Quando era criança, ela sonhava com lobos. Perseguiram-na todas as noites durante um ano. Corria e nunca era apanhada.
Depois, conheceu um homem. Divertido e protector. Dentes afiados, pêlo macio.
Ainda sonha com lobos.
Mas agora, enquanto eles caminham dentro dos seus sonhos, ela corre com eles.

Sheree Pellemeier
(Versão de HMBF)
#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10 / #11 / #12

O edita por escrito

3.

Não cheguei a tempo da sessão de abertura do Edita 08.
Se fosse uma sessão de cinema ou um concerto e não tivesse comprado bilhete, recusar-me-ia a entrar no recinto.
Faço questão de acompanhar o todo de tudo o que decido tomar parte. Mas a própria vida não é assim…
Tanto assim que ninguém assistiu ao seu próprio nascimento. Poucos se lembram de quando abriram os olhos para a vida. Muitos não se lembram por esse dia ainda estar para vir.
Já que não me foi permitido assistir à minha vida desde o início, há que estar lúcido até ao último dia, para ver quem me acompanhará até à estação de partida.
Nunca deixarei de ter esse desejo. Quando era pequeno desejava partir uma perna, para ver quem verdadeiramente gostava de mim e que me assinaria no gesso.
Mas nunca consegui partir uma perna. Nem partir uma perna a alguém.

*

Adiante que se fazia tarde.
Foi uma confusão para encontrar o albergue. E outra confusão para que a recepcionista encontrasse o meu nome entre os convidados.
No quarto, afinal de contas, não havia a confusão que eu esperava. O quarto afinal não era camarata, mas sim individual. Confusões, a haver, só na casa de banho que compartia com um tal de Juan e que nunca conheci, por talvez se tratar do Don Juan e nunca ter dormido na sua cama, ou talvez um pseudo Don Juan, pois o verdadeiro donjuanista vai com tudo e com todas e tampouco me sujeitou à sua tentação…
O albergue era uma casa rural e caiada, idêntica à dos Algarves que eu conhecia tão mal como conhecia as Andaluzias. Do pátio, parcialmente coberto para proteger do sol que se levantava ao meio-dia e não caía até às oito da tarde, ouvia-se e cheirava-se e quase via-se o mar.

*

Chegado ao Teatro del Mar, a recepcionista encaminhou-me em passo de cerimónia para o auditório.
No palco, discursava um idiota que se julgava inteligente por ter chegado à conclusão que as novas tecnologias não representavam uma ameaça para a galáxia Guttenberg, se as usássemos como uma ferramenta auxiliar. Seguiu-se uma mexicana que falava a medo e só ganhava alguma convicção quando apelava para que os presentes comprassem a merda da revista dela para ajudar uns indígenas que estavam em vias de extinção.
Fiquei até ao fim dos discursos, com a ingenuidade do estreante que desconhece que o público não pode intervir com perguntas ou comentários. Queria propor à mexicana, a título de exemplo, que fomentasse a fornicação entre os indígenas, em vez de nos foder a cabeça com converseta.
Saí do auditório e fui apresentado ao organizador do Edita, o Uberto Stabile, que me informou que eu era o primeiro português a chegar ao evento e me apontou para a estantuguesa vazia onde podia colocar todo o catálogo da Canto Escuro.
Antes de jantar, dei uma volta por Punta Umbria. Lembrei-me que precisamente há um ano estava a voar de Estocolmo para Dublin, a atravessar céus nunca antes atravessados por mim.

*

Procurei um restaurante típico e barato, que estivesse a transmitir o Chelsea-Liverpool e não estivesse ninguém do Edita.
Acabei por entrar num que estava a passar o jogo, na verdade todos estavam, e que se revelou típico e barato porque dois valencianos pagaram-me parte da conta sem darem conta e até me fizeram estar-me nas tintas por estarem para o Edita.
Mais tarde, no Reflexos Bar, um dos valencianos fez a única perfomance que conseguiu fazer mais calar-me a mim e ao outro valenciano, ambos ao balcão, do que o coro de shius da plateia durante as demais perfomances.
Vítor Vicente
1 / 2

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #50

MARIONETA ZEN



Apática e esquelética como um carapau
seco no mundo, sorriu patética – no centro
da encruzilhada onde o sol belisca o vento
– quando soltei o balão amarelo e este
atrapalhando o voo da borboleta, rasgou
em x o céu como se fosse um x-acto.
Pelo centro da cruz de luz entrou
ao teu encontro. Sabia estares aí
sentado na lágrima da saudade
à espera de notícias minhas.

Descendo à terra, dava biberões
de caldo de jerimum ao filho de oito
meses e a si, dizendo ter a abóbora tudo
o que é preciso para um corpo viver
saudável. O bebé chorando constantemente
pela roca, proteínas, minerais e carinhos.
O alento ia faltando na articulação
dos fantoches do grupo de teatro caseiro
a que pertencia sem nunca ter vindo
bater pela noitinha à minha porta
para atravessarmos a ilusão
de não estarmos sós.

Abraçando uma marioneta, foi
encontrada com a morte ao pescoço
e o rosto golpeado por mexilhões e
detritos do esgoto que outrora fora rio.

O cachorro foi o primeiro a cheirar
o abandono do menino enrolado na manta
de areia junto à betoneira duma obra.

Por ironia do destino ou ordem astral,
a sorte por esses tempos
também me tinha abandonado.

Jorge Aguiar Oliveira

24.5.08

MICROBIOLOGIA #12

NO JARDIM

Sentada no jardim, ela viu-o correr na sua direcção.
“Tina! A minha flor! O amor da minha vida!”
Finalmente ele o dizia.
“Oh, Tom!”
“Tina, a minha flor!”
“Oh, Tom! Eu também te amo!”
Tom chegou ao pé dela, ajoelhou-se e empurrou-a para o lado.
“A minha flor! Tu estavas sentada em cima da minha rosa preferida!”

Hope A. Torres
(Versão de HMBF)
#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10 / #11

POSITIVO

A partir de 26 de Maio próximo não teremos de pagar os alugueres dos contadores de água, luz e gás, a cobrança bimestral ou trimestral, que tanta roubalheira tem permitido, será finalmente proibida, assim como a cobrança pela amortização ou inspecção periódica dos contadores. Para já, tudo isto parece muito positivo. É esperar para ver.

ESTADO ROUBA DEFICIENTES

Porque a bola intoxica, porque fazem-se capas e títulos com notícias caducadas, importa não deixar morrer os pormenores da actualidade:

A Palmira Gaspar tem um Lúpus Eritematoso Sistémico há mais de 41 anos. Aos 52 anos, após duas crises graves sucessivas, com 32 anos de trabalho, reformou-se por invalidez com 83% de incapacidade, beneficiando assim de algumas particularidades em sede de IRS. O Atestado Médico de Incapacidade da Palmira é permanente e, como tal, tem validade por tempo indefinido. Foi emitido pelo Ministério da Saúde, em 1995, e sempre aceite pela Administração Fiscal durante 12 anos. Recentemente, a Direcção de Finanças de Leiria deixou de considerar válido esse mesmo atestado, sugeriu que a Palmira pedisse uma nova Junta Médica de avaliação, com nova Tabela de Incapacidades, muito mais restritiva a partir de 2008 e, pasmem, que voluntariamente substituísse os mod. 3 do IRS, de 2004 a 2006, pagando coimas e juros compensatórios como se tivesse prestado falsas declarações. Do meu ponto de vista isto não só configura um autêntico roubo como demonstra, de um modo bem claro, que a Administração Fiscal está transformada numa autêntica máfia com um poder imenso de intimidação. O que pode e deve um cidadão fazer perante uma situação destas? Já não chega reclamar, é preciso, é fundamental uma enorme onda de indignação. Caros senhores jornalistas, bem sei que a selecção é muito importante e que os vícios do primeiro-ministro são fundamentais para o bem-estar da nação, mas há mais vida para lá do mero show off… Não acham?

23.5.08

UMA GERAÇÃO DO SILÊNCIO ENTRE VÍRGULAS

Escrevi aqui sobre a revista Criatura. Entretanto, outros escreveram muito melhor que eu. Porque as perspectivas, não sendo antagónicas, manifestam sentimentos diferentes, chamo aos arquivos outros testemunhos:

«(…) a vontade de diferença ou de distanciamento atravessa, de um modo por vezes notável, alguns poemas aqui reunidos. Percebe-se, sem dificuldade, que estamos quase sempre perante autores muito jovens, não faltando certos ecos adolescentes. E é provável – perdoe-se a crueza do reparo – que o que para uns serão os primeiros e auspiciosos passos possa vir a ser, para outros, um mero e inconsequente desabafo».
Manuel de Freitas, Actual, Expresso, 19 de Abril de 2008

«Não é muito evidente, nos tempos que correm, que uma revista de poesia surja logo no primeiro número com a afirmação de qualidade e de coerência que esta «criatura» apresenta. Entre um parágrafo introdutório e uma nota final, ao longo de 110 páginas, o leitor vai descobrindo 15 novos poetas com a surpresa de vozes originais e que dominam plenamente a linguagem poética. É evidente que se trata de um ponto de partida para o que se poderá designar um grupo, uma geração, ou apenas uma reunião de vozes que manifestam uma identidade temática e estilística (…)».
Nuno Júdice, JL, 21 de Maio de 2008

A DESCOBRIR



No P2 de hoje fala-se de Annemarie Schwarzenbach, autora de Novela Lírica (publicada, em Portugal, pela Granito e não pela Civilização como vem no artigo). Nasceu em Zurique, a 23 de Maio de 1908, estudou na Sorbonne, esteve ligada a um movimento socialista, era lésbica, viciada em morfina, dependente do álcool, foi várias vezes internada na sequência de crises de loucura e de violência, opôs-se ao nazismo, viajou imenso, morreu a 15 de Novembro de 1942 com apenas 34 anos. Como poderão ler aqui, «em vida publicou dois romances, uma novela, três livros de viagem e mais de 300 reportagens e textos de viagem em jornais suíços».

E já que estamos com a mão na imprensa, cabe dizer que o mais recente JL dedica praticamente uma página a Caravana e, mais à frente, oferece uma pequena coluna onde metade do texto é dedicado às edições da OVNI, com destaque para o recente O Espelho Atormentado, e a outra metade às edições da Angelus Novus. Começam a surgir na imprensa portuguesa termos como micronarrativa e microcontos. Isso é positivo.

MICROBIOLOGIA #11

A JANELA

Desde o brutal assassinato de Rita, Carter senta-se à janela.
Nada de televisão, leituras, correspondência. A sua vida é tudo o que se passa fora daquelas cortinas.
Não lhe interessa sair do quarto, saber quem fornece refeições, pagar contas. O seu mundo é a mudança das estações, os caminhantes, carros em trânsito, o fantasma de Rita.
Carter não percebe que as celas almofadas não têm janelas.

Jane Orvis
(Versão de HMBF)
#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10

INDIGNA-TE

Portugal foi apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade. À excepção de Portugal, os rendimentos são repartidos mais uniformemente nos Estados-membros do que nos Estados Unidos. Os países com um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários. A notícia veio no Público de ontem. O Álvaro comenta-a muito bem:

Portugal não é apenas um país pobre, é um país de pobres, de muitos pobres e de poucos muito ricos. Mas é à custa do flagelo dos muitos pobres que se vai mantendo o barco à tona. Porque se os grandes grupos económicos continuam a ter lucros altíssimos, se as Galps, as Brisas, as PTs e demais pesos-pesados fazem figura nos dividendos aos accionistas, isso deve-se a uma cobrança injusta sobre os utilizadores, que naturalmente penaliza os que menos têm. Se os lucros são muito elevados as hipóteses não são muitas: a) o estado cobra menos impostos do que devia (o caso da banca e dos seguros é o mais óbvio); b) os utilizadores pagam mais do que deviam; c) as empresas investem menos do que deviam, nomeadamente ao nível dos postos de trabalho e das regalias sociais; d) todas as anteriores.

OS PORTUGUESES SÃO UM POVO MEDÍOCRE, ANALFABETO E DESINTERESSADO #6


E “os americanos”?
Via Analfabeto.
1, 2, 3, 4, 5...

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #49

BRAÇO DADO COM O MORTO


O cós da saia ajustava vinte anos
de pobreza. Uma semana depois de enfiar
a aliança no dedo do marido, entrou
na drogaria um ataque cardíaco.
Galgando o muro do grito, jurou
não mais trocar de aliança.
O vento será seco até ao fim.

Passaram outros vinte anos e contínua
passando a ferro os tecidos pretos.
Janta na mesa de fórmica da cozinha
sem nunca deixar de pôr os talheres,
o prato e o copo para ele. Revela
nunca jantar sozinha. E a alegria que
ele lhe dá ao apreciar
a sua mão cheia de temperos?

O mundo girando permanentemente,
formando-se na deformação dos detritos
do desmazelo e das novas formações
ácidas. Mas isso não importa. Não
faz parte das atenções da sua rotina.
Lá em casa nunca ficou nada de pernas
para o ar e tudo se encontra
na mesma como a lesma.

Antes de pisar o altar era uma burra
de lavrar a terra, levando os vagares
da vida a cuidar das feridas dos anjos.
Na sua aldeia os homens eram todos
anjos de bondade aos seus olhos.
Às vezes chorava de desgosto
ao lembrar a puta da profissão
de sua mãe, e de ouvir escondida
os seus gemidos doridos, provocados
pelos homens brutos que levava
para casa. O talhante, o taxista
(este fazia-a sofrer demais, por ter
uma picha de burro e velocidade
dum cão eléctrico), o pedreiro...

Enfermeira de mezinhas curandeiras
dizia encontrar uma paz na alma
sempre que encontrava um anjo
precisando da sua ajuda. Da espécie
homem só provou o Jacinto, horas
mais tarde de cortar o Bolo de noiva.

Jorge Aguiar Oliveira

3 ANOS

*

Nunca o que li me foi indiferente ou me causou tédio, tenho discordado mais do que concordado mas nunca tenho sido adormecido com o que aqui leio. Li um comentário sobre o livro do Mira George que me convenceu a ficar por aqui sempre, não dei pelo tempo passar! Gostaria de ver mais poesia tua, e gostaria que não te repetisses tanto. É um blog que informa, que faz humor, que provoca, que divulga autores e, muitas vezes, foi pedagógico para mim. Acabei the chegar. Sou leitor diário (desde o primeiro dia, penso) e vou continuar. A poesia deve ser sempre um tópico na ordem do dia. O insónia deve ser lido com os sentidos bem despertos - é um local de vigília, a insónia é a cura para qualquer doença do espírito, aqui cheguei de lupa. descobri micróbios rastejando entre poesia, labirintos, perspicácias... desenrola-se agora uma nova microbiologia! Para além de um grande esforço de abrangência temática e de actualidade, o que mais relevo neste blogue é a tentetiva de independência e não sectarismo ideológico ou estético, por aqui passo sempre, para iluminar a alma, que se dê o nome deste blog a uma rua em cada uma das capitais de distrito e regiões autónomas do país, de preferência ruas onde não more ninguém, :), gosto desta insónia desde que era um universo desfeito, três anos a contar carneirinhos, *Tout le Monde en Parle, que esta seja uma insónia crónica, de muito longa duração, posso garantir que o insónia foi dos blogues que mais visitei, ainda que esteja bastante cansado, quando regresso de viagem, posteriormente ao mail, o insónia é dos primeiros sites que abro, é excelente a ideia de partilhar uma garrafa de vinho... por todas as vezes em que nos detivemos nas vossas palavras. Foi lá que descobri um caminho para a micro-ficção, agrada-me a sua lucidez, a sua diferença (sou alérgico a papéis químicos) e, algumas vezes, a sua coragem, embora não me tire o sono é uma lufada de ar poético neste "mundo", sem paneleirices métricas ou outras, um guia obrigatório da minha actualização do "mundo", eu gosto, stay strong mano, é certamente um blog de grande importância, parabéns à casa, que dizer? é um dos melhores locais para "navegar" e aprender. Que continuem com o OlhO sempre desperto, do peito aberto às balas: Longa vida. Às vezes venho para colher discordâncias, outras para dar o meu prescindível sim, é o meu google de poesia, quando quero surpreender-me passo por aqui, é um dos meus livros de cabeceira, parabéns. A minha primeira insónia é logo ao começar (todos os dias) a manhã. Aqui gosto dos textos sobre escritores, gosto dos textos com sentido de humor, gosto de textos descritivos, gosto de textos que nos fazem pensar! Aprecio a poesia, a independência dos comentários políticos e a lucidez, o sonho do sono sem nada na margem do bocejo. À revelia das corporações, e longe das capelinhas de Lisboa e do Porto, o Henrique Fialho conseguiu impor o seu blogue como morada de referência, falando quase sempre de livros, em regra bem — bem no sentido de ter critério e ser bem escrito —, e muito pouco de politiquice, ou seja, fazendo o contrário do que garante audiências. Mas confesso que me chateia algo, até bastante, esta tanta insónia que permite tanto ler e tanto escrever - faz-me resmungar contra o meu constante sono. Eis os factos: chove para além de uma janela que me defronta, é (sem dúvida!) o sentido crítico o que me faz cá vir (quase) todos os dias. Insónia: antologia do esquecimento do(s) universo(s) (des)feito(s). Há palavras que estão a aparecer recorrentemente: poesia, obessão, sem filtro, pessoal, quixotesco e avalanche, boa poesia e boa crítica literária, três anos a escrever, à margem do circuito habitual da literatura e da crítica literária. Um blogue completo com bons textos, muita poesia, prosa, crítica, intervenção, música e devo-me estar a esquecer de alguma coisa. O Insónia foi dos primeiros blogues que conheci, ainda era um Universo Desfeito, estava fora de Portugal e procurava poesia, encontrei muito mais, um dos blogues que leio com mais prazer. Parabéns a este bolg, que ajudou a dar à luz o Afrodite, rebelde, descomprometido, com talento, sem mesuras de confraria literária... honesto e íntegro, acima de tudo, muitos parabéns. Gosto daquela escrita prolixa, ao ritmo das demais coisas da vida.

22.5.08

um amigo

chora no ombro onde pousa
o amigo é um violino
estimado, obstinado
mesmo se dorme ao colo aberto de pau santo
de alfinete paciente e carinho antigo
o virtuoso ausente
omnipresente como um príncipe
e prenhe do murro seco
no estômago do mundo
o amigo é um chicote de raios de sol
para sacudir e arejar o pólen ao corpo indefeso
ao coração inocente e sábio
e ao suor da planície
é um homem à rasca pelo que fez por nós
mas não disse, não disse


Joaquim Castro Caldas

Joaquim Castro Caldas nasceu em Lisboa em 1956. Actor, boémio, poeta, diseur conhecido pela dinamização das segundas-feiras de poesia no Pinguim Café, no Porto, publicou livros de poesia tais como Português suave (1978), Convém avisar os ingleses (2002) e Mágoa das Pedras (2008).

UMA EXPLICAÇÃO

Tudo era mais simples quando apenas chovia
e a tristeza não reivindicava uma explicação,
quando o céu tingido de cinza era uma multa
passada ao excesso de velocidade do coração.

ESPELHO

A visibilidade coloca as pessoas à mercê da mais mortífera das armas: o olhar. Estas pessoas transformam-se em alvos disponíveis, sujeitos a julgamentos invariavelmente fabricados à superfície de impressões, sensações, suspeitas completamente subjectivas. Deste modo, se eu olho alguém devo, pelo menos, admitir que aquilo que vejo não é o que alguém é nem mesmo o que aparenta ser. É apenas o que os meus olhos, obnubilados pela subjectividade das minhas impressões, conseguem ver. De olhar os outros à sombra dos nossos próprios vícios e defeitos, se fazem a maior parte das críticas. Nenhum espelho resiste à parcialidade.

21.5.08

OS PORTUGUESES SÃO UM POVO MEDÍOCRE, ANALFABETO E DESINTERESSADO #5

Mussolini foi um líder benevolente que nunca matou ninguém. Mussolini mandava as pessoas de férias para fora das fronteiras.

Silvio Berlusconi
(actual presidente do Conselho de Ministros da Itália, cargo que já ocupou no biénio 1994-1995 e de 2001 a 2006)
1, 2, 3, 4...

MICROBIOLOGIA #10

AVÓ ENFRENTA ASSASSINO DO MACHADO

O louco assassino do machado aproximou-se da casa. Tendo saqueado o bairro inteiro, o seu saco de pilhagens estava quase cheio.
Sozinha dentro de casa, a avó sentou-se a fazer malha. O assassino levantou o seu machado ensanguentado e tocou a campainha do átrio. Lentamente, ela abriu a porta e lançou um olhar perscrutador ao rosto do assassino.
“Partida ou doce!” gritou o rapazito.


Diane Elliott
(Versão de HMBF)


#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9

LABIRINTO #25


Maria João

#1 / #2 / #3 / #4 / #5 / #6 / #7 / #8 / #9 / #10 / #11 / #12 / #13 / #14 / #15 / #16 / #17 / #18 / #19 / #20 / #21 / #22 / #23 / #24

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #48

SOPRO DE LUZ MORIBUNDA



Decidindo desligar o coração da corrente
puxou a ficha do sangue para o olhar
não voltar aos mares ou poisar
no parapeito da espera. Tudo ficou
apenas por um curto-circuito.
Uma parte de si apeou-se para sempre
no gesto, onde nunca houvera desespero algum.
Somente a constatação da sua vida ser
um tremoço a que Deus veio um dia tirar
o miolo
ficando casca seca, na berma da descrença.

Também nunca mais a vida fica a mesma
a partir do primeiro beijo
ou do primeiro corpo nu tocado.
Nem se esquecem as frésias depois
de lhes tomarmos o cheiro
ou dormimos em paz
quando uma paixão nos foge.
Como nunca desejamos amar
alguém que traga o nome
do desgosto mais amargo.

Um vinho ou um comprimido ajudam
a esquecer, mas, um novo amor, não.
Nunca. Um desgosto de amor é uma ferida
que mesmo sarando, deixa para sempre
uma cicatriz de disfarce impossível.

Não sabendo o que fazer destes minutos
senão guardar na lata vazia de salsichas,
luas de noites podres
onde o bolor viçoso prende
este enxovalhado olhar.
Se apanho secas de espera
é por ele ser a única razão de andar
por aqui, mesmo sabendo que
os planos de futuro
moram num cata-vento sem norte.

E se sonho vê-lo pegar numa seringa
espetar a agulha no seu coração
colher o sangue do amor
e vir cravá-la,
descarregando o seu no meu sangue

é por não suportar o medo
da nossa vida poder vir a ser
tão curta.


Jorge Aguiar Oliveira

20.5.08

MICROBIOLOGIA #9

ÚLTIMA TESTEMUNHA

A confusão instalou-se. A próxima testemunha acabara de atravessar as portas da sala de audiências.
“Ordem no tribunal!” bramiu o juiz, batendo com o martelo.
Todos os olhos postos em Tommy, que estava sentado na barra das testemunhas, com a boca aberta em estado de choque.
Era agora óbvio quem tinha assassinado a sua mulher.
Ninguém.

Candice C. Mutschler
(Versão de HMBF)

O edita por escrito

2.

Na estação de Santa Justa, em Sevilla, senti uma náusea análoga à que contenho no aeroporto del Prat del Llobregat. Mas no aeroporto não se deve senão tratar-se do meu local de trabalho e num local de trabalho nunca se pode esperar encontrar o paraíso, quando muito o purgatório.
Na verdade, o que me faltou é a estranheza extrema que senti, no verão de 2006, à estação de Sants, em Barcelona. Ai essa experiência é irrepetível, irrecuperável!

*

Enquanto aguardava pela tapa da casa, um pedaço de tortilha, observei a fauna em redor.
Os velhos eram iguais aos velhos portugueses, na felicidade com que se sentam à mesa e na expressão triste com que se levantavam na direcção da casa de banho. As andaluzas tinham pinta de provocadoras e faziam jus à fama das espanholas em geral e desta região em especial. A minha experiência com estas criaturas é parca mas suficiente para perceber que são umas porcas. A única vez que estive com uma criatura destas, vi-me na boca dela. Eu costumo vir-me na boca, mas, alto aí com as egolatrias e com o meu mérito, não à primeira. Adiante e para rematar, ao balcão vi um maluco sobre o qual nada tenho a dizer se não que era igual a todos os outros malucos que existem no mundo.
Finda a refeição, tomei um café. Se a minha língua bem se lembra, já tinha tomado este café antes e em Portugal. Este era o pior dos portugueses cafés possíveis. Por conseguinte, o melhor dos cafés possíveis em Espanha.

*

Ainda em Santa Justa, o tédio do tempo de espera tomou-me o corpo todo. Até que quase me tomba num torpor total, dos pés à cabeça.
Então elevei-me ao espaço etéreo da escrita. E fico como que a ver estrelas…
Mas a escrita, à medida que escoa, também chega à exaustão. E esgota-se.
Quem não tem cão, tem trolley, concluo eu, e pus-me a dar volta à estação com a mala, como quem leva o bicho à rua.
Ai como eu gostava de soltar o trolley, para depois chamá-lo pelo nome, Trolley assim mesmo, como um animal de estimação, ouvi-lo responder com um latido e viesse a correr ao meu encontro, devidamente domesticado, tudo para uma mistura de choque e gáudio dos presentes.
Mas isto não passou de um delírio de quem trabalha no departamento de malas perdidas de uma companhia aérea. Ou de me esquecer que não tinha ninguém a quem dar a mão e passar o tempo nesse espaço sem tempo onde existem os apaixonados.
Vítor Vicente
1

19.5.08

POSITIVO

hino português suave
nós
portugueses
juramos:
jamais seremos «calvinistas morais radicais».
nós
portugueses
juramos:
jamais fumaremos tabaco
tão pouco charros
nós
portugueses
juramos:
jamais nos embebedaremos
nós
portugueses
juramos:
jamais seremos corruptos
nós
portugueses
juramos:
jamais interferiremos nos assuntos do estado, pois consideramos (a partir deste momento de grande indignação por parte do nosso líder incontestável) que os nossos estadistas (todos sem excepção) estão acima de qualquer crítica. que são pessoas íntegras, insuspeitas etc & tal.
e
em nossas casas jamais entrará um fumador, um alcoólatra, um corrupto, um homossexual, um fundamentalista calvinista.
nós
portugueses
somos católicos fatimistas (mesmo que não saibamos o que isso quer dizer) e perdoamos os pequenos deslizes tabagistas e mesmo sexuais de qualquer político nacional aerotransportado...
viva a pátria
viva o povo
viva o senhor primeiro ministro, nosso grande timoneiro
viva Portugal

(Encontrado na Confraria da Alfarroba)

Maria João

MICROBIOLOGIA #8

8 DE DEZEMBRO, 1980, 17:59

Ela fechou o livro de história e suspirou.
“Aquele General Custer. Nunca deveria ter deixado a segurança do território de Dakota.”
Ele estava com demasiada pressa para ouvir. Pegou na guitarra e dirigiu-se para a porta.
“Que diabo, Yoko. Vamos embora. Já estamos atrasados.”

David Congalton
(Versão de HMBF)

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #47

SMSúplica



negro
meu coração
está negro
todo negro

volta para mim
para dentro
de mim

prometo
deixar-te desfiar
o xaile negro
de cambraia
que cobre
meu coração
e nu de sangue
recomeçar
de novo
a viagem
para o teu

volta para mim
para dentro
de mim

se por maldade
ou vingança
não vieres
malvado
malvado sejas
até ao fim
da tua sombra


Jorge Aguiar Oliveira

18.5.08

A TAÇA É NOSSA


OS PORTUGUESES SÃO UM POVO MEDÍOCRE, ANALFABETO E DESINTERESSADO #4

Os fãs do Zenit São Petersburgo são racistas. Afirmou-o o treinador do clube russo, Dick Advocaat, que lamenta não poder contratar jogadores brasileiros porque os adeptos não gostam de pretos.

MICROBIOLOGIA #7


GOURMET COMESTIBLES

Os olhos opulentos de Mrs. Wigelsworth brilharam quando pediu o filete tenro de poldra de Pat R. Hamm, proprietário da Gourmet Comestibles, para um jantar de festa em honra do chefe da polícia.
Quando a sua filha não apareceu, o chefe prometeu encontrá-la. E encontrou.
Mr. Hamm foi preso.
O chefe teve uma indigestão.
Mrs. Wigelsworth tornou-se vegetariana.

Dolorez Roupe
(Versão de HMBF)

17.5.08

EU NÃO VOU

Como nunca fui adepto da Feira do Livro, nem faço tenções de a visitar caso venha a realizar-se, passa-me um pouco ao lado o imbróglio entre editores, associações, grupos empresariais que tanta tinta tem feito correr nas últimas semanas. Eu gosto mesmo é de feiras das velharias, alfarrabistas e livros em segunda mão. Devo dizer que alguns dos melhores livros que li foram adquiridos em feiras das velharias como a que decorre no Parque D. Carlos I, em Caldas da Rainha, todos os segundos domingos de cada mês. Dou-vos alguns exemplos: Antologia do Humor Negro (Afrodite, 1973), de André Breton; Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial (Perspectivas & Realidades, 1977) e Surrealismo/Abjeccionismo (Minotauro, 1963), ambos de Mário Cesariny; Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa (Moraes, 1971), organizada por Maria Alberta Meneres e E. M. de Melo e Castro (quando se organizavam boas antologias); duas raridades polémicas: Novas Cartas Portuguesas (Futura, Maio de 1974), das célebres Três Marias, e A Filosofia Na Alcova (Afrodite), do Marquês de Sade, numa reedição acrescentada com os documentos do processo de censura instaurado contra a 1.ª edição; Poesia, Liberdade Livre (Morais, 1962), de António Ramos Rosa; a segunda edição de O Existencialismo é um Humanismo (Presença), com o exímio prefácio do Vergílio Ferreira; três pérolas da Antígona: O Erotismo (1988), de Georges Bataille, Cunnus (1999), de Alberto Hernando e Na Penúria em Paris e em Londres (1985), de George Orwell; o Kama Sutra, na tradução de Nuno Bacelar publicada pela Afrodite em 1965; A Condição Humana (Livros do Brasil) de André Malraux, com tradução e prefácio de Jorge de Sena; O Homem Revoltado, de Albert Camus… entre tantos, tantos, tantos outros. Isto tudo para dizer que a Feira do Livro é só um mal necessário para quem vende e uma trapaça evitável para quem compra. Dispenso os autógrafos das estrelas e os descontos enviesados. Prefiro os velhinhos, cheios de pó, carcomidos pelo tempo, mas devidamente amadurecidos.

MICROBIOLOGIA #6


PELA NOITE DENTRO

Olhar, sorriso, dentes, lábios, voz, sensualidade, carro, tacto, apartamento, sofá, música, dança, luzes, bebida, húmido, seco, suave, firme, rápido, lento, fácil, difícil, perna, joelho, coxa, ombros, peito, dedos, macio, áspero, hálito, sala de estar, quarto, casa de banho, cozinha, cave, cama, almofada, lençóis, duche, cigarro, café, meias, soutien, vestido, blusa, nu, algazarra, porta, marido, luta, assassínio, roupas, janela.

Dick Skeen
(Versão de HMBF)

OS PORTUGUESES SÃO UM POVO MEDÍOCRE, ANALFABETO E DESINTERESSADO #3

O tablóide The Sun é jornal mais vendido da Grã-Bretanha.